A antropologia nos remete a um passado não tão distante, em que éramos selvageria, barbárie e chegamos à civilização. Processo em que emergiu não só o marco do Estado, mas também a ética, para nortear e disciplinar o novo contexto social, em todas as atividades humanas. Todas?! Seria a ética aplicável ao trânsito?
Etimologicamente, ética se originou da expressão grega ethike philosophia (filosofia moral ou filosofia do modo de ser), de ethos (caráter, costume). Posteriormente, os romanos traduziram o ethos grego para o latim mos (ou plural mores), compondo a palavra moral. Logo, a moral (conjunto de princípios, valores e juízos) vem do berço familiar, e a ética constitui o seu aspecto científico, sendo a área da filosofia que estuda as normas morais nas sociedades humanas. Porém a ética não é competência inata do ser; ela é assimilada no curso da vida. Quando temas complexos transcendem a ética, tornam-se bioéticos (de ética aplicada à vida, como: aborto, castração química de criminosos sexuais, manipulação genética, etc.). Enfim, ética é indispensável a um trânsito que mata mais do que a criminalidade e a violência urbana no Brasil. Quase 40 mil pessoas por ano viajam sem volta!
Por aqui, é comum deixar em segundo plano: tráfego (de veículos, pessoas e animais); mobilidade urbana; segurança viária; sustentabilidade e educação no trânsito. E não só pelo Poder Público, mas também pelos próprios usuários, já que a maioria dos acidentes é causada por imperícia, imprudência ou negligência em seguir as leis de trânsito, em trafegar sem desviar a atenção, em manter a sobriedade, em trazer a manutenção do seu veículo em dia, etc. Ademais, nem é preciso ser psicólogo para notar como uma pessoa calma pode se transformar num predador no trânsito, “colocando suas asinhas de fora” em fatos típicos de ofensas verbais, vias de fato, lesões corporais ou até mortes. Tudo isso porque tem faltado ética! Nem uma pandemia foi capaz de amansar os ânimos do condutor brasileiro!
Portanto a ética no trânsito envolve o Estado, através das políticas públicas universais, da qualificação do agente da autoridade de trânsito e da educação para o trânsito, que deveria ser disciplina obrigatória no currículo escolar desde os anos iniciais. Longe do alheio, o protagonismo é de todos nós, pedestres e condutores de veículos, motorizados ou não, em prol de um trânsito mais ético, seguro e cônscio de sua responsabilidade social mister: preservar vidas. Vidas a edificarem um mundo melhor; um mundo que não seja um mero “sonho de um poeta louco”…