A peste, a fome, a guerra e a morte representadas como cavaleiros do fim dos tempos, na verdade, se fazem presentes a todo tempo na história da humanidade. Só que, enquanto pastavam em terras áridas de deserto ou de savanas, bebendo do sangue de corpos negros, nossos olhares distanciados se acostumaram com a tragédia daquelas cenas turvas, como se todo nosso aparato de comunicação tecnológica e digital por ali sofresse algum tipo de avaria. Hoje, nos assombram que tais figuras funestas trotem com voracidade por terras alvas de neve e que suas vítimas sejam igualmente brancas. O sangue, entretanto, segue tendo a mesma cor seja onde for, e nisso, apenas nisso, as cenas se assemelham não importa onde aconteçam.
Vivemos num tempo de tamanho assombramento que nem mesmo uma pandemia em escala global foi capaz de evitar a destruição de nossa Casa Comum, criar uma rede internacional de solidariedade contra a forme e a miséria ou evitar que guerras continuassem e outras começassem. O mesmo infortúnio tiveram os avanços tecnológicos e suas ferramentas de aproximação, de conforto, de entretenimento, de informação e de conhecimento em todas as áreas, posto que todo seu progresso não foi igualitariamente distribuído, e seus usos miraram o interesse econômico acima de qualquer outro!
O Papa Francisco, por diversas vezes, em sermões, editos e sobretudo atitudes, se posicionou em favor dos que mais sofrem com as consequências das mudanças climáticas, com as migrações forçadas e com as guerras, mesmo nos lugares onde não despertavam tanto interesse da mídia internacional e da opinião pública que ela constrói à sua conveniência. E ele sofre junto, o que se torna muito visível em seu abatimento, quando mais uma vez suplicou: “Senhor, perdoai-nos a guerra!”.
Nessa semana, por diversas vezes, o Papa Francisco insistiu pelo fim da inaceitável ação militar conduzida pelos russos na Ucrânia. No domingo, rezou a oração feita por um bispo italiano que pede a Deus que “detenha a mão de Caim”, “se continuamos matando nosso irmão, erguendo pedras da nossa terra para matar Abel”. Depois, em encontro com Sua Santidade Kirill, Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, afirmou: “Somos pastores do mesmo Povo Santo que crê em Deus, na Santíssima Trindade, na Santa Mãe de Deus: para isso devemos unir-nos no esforço de ajudar a paz, de ajudar os que sofrem, de buscar caminhos de paz, para deter o fogo”. E, em resposta à carta do prefeito de Kiev, o porta-voz do Vaticano ainda disse que “Francisco está próximo ao sofrimento da cidade ucraniana e das pessoas, daqueles que tiveram de fugir e daqueles que trabalham na administração da cidade”.
Buscar o caminho da paz é um imperativo para todo cristão. A cultura da violência, da intolerância e da destruição não está somente no noticiário internacional e nos desafia, em todo lugar e a qualquer tempo. “Deus é apenas o Deus da paz, ele não é o Deus da guerra, e aqueles que apoiam a violência profanam o seu nome.”