Karl Rahner, sacerdote jesuíta alemão, foi um dos mais influentes teólogos do século XX. A teologia rahneriana tem interessantes ideias. Uma delas é a da tensão que constitui o ser humano. Nietzsche escreveu que o homem é uma corda esticada entre o homem e o “além-do-homem” (Übermensch). Mas Nietzsche tinha outros propósitos. Rahner diz que o homem é um “espírito no mundo” (Geist in Welt).
É espírito porque vive no horizonte da totalidade do ser (que implica a referência ao Ser absoluto); reconhecendo todo limite como limite, o homem está para além de todo limite; todos os entes conhecidos e desejados por ele o são na forma ou na luz da amplitude ilimitada do ser; em cada ente conhecido, dizia Tomás de Aquino, conhece-se implicitamente a Deus.
De outra parte, o homem é no mundo, evidentemente, porque está enraizado no espaço e no tempo, é um ser finito com dimensão biopsíquica, histórica e cultural. Aliás, sem o finito, a luz do infinito não se manifesta – eis a verdade fundamental da tradição aristotélico-tomista, que diz que nosso conhecimento tem início na finitude dos sentidos. A luz do ser ilimitado não pode ser vista senão quando ilumina o ente limitado. A tensão que constitui o homem se mostra na dupla raiz do seu ser: uma raiz fincada no infinito e outra, no finito.
A partir dessa ideia, o pensamento de Rahner procura manter em tensão a mística e o compromisso histórico, a verdade e a relatividade, a oração e a ação.
Que seria da religião e do cristianismo sem a verdade e o Absoluto? Que seria, também, do cristianismo sem a história, a finitude, a relatividade e o crescimento? Afinal, o cristianismo é a religião da encarnação. Nem o absolutismo, que gera dogmatismos por demais rígidos, nem o relativismo, que deságua na ausência de sentido e no niilismo. Esse me parece um dos aspectos mais fecundos do pensamento de Rahner.