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O perigo de uma única história

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A informação na internet chega por todos os lados: tweets, postagens, Beyoncé. O álbum Flawless, autointitulado e lançado pela cantora em 2013, trouxe um discurso direto sobre feminismo na música, discurso este protagonizado por Chimamanda Ngozi Adiche: não uma cantora, mas uma escritora. Em um “google” sobre ela, tudo o que eu acredito sobre feminismo me veio à tona em forma de conversa.

Crescer e amadurecer com as mulheres foi uma regra pra mim. Filho único de mãe solteira em São Paulo, onde a única “família presente” era composta de uma madrinha, uma avó postiça e uma irmã de outra barriga, fui cercado por mulheres fortes minha vida toda. Mulheres que não acreditavam no feminismo.

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Ao mostrar o discurso para a minha mãe, a reação (ao contrário do que eu esperava) foi insossa e cinza. Nesse dia, conversamos muito a respeito, e foi quando eu entendi: ela podia até acreditar, mas não se intitulava feminista. Feminista, para a pessoa que eu mais admiro na vida, era a mulher que pintava os pelos das axilas, andava de seios de fora e agredia homens.

Pausamos aquela conversa, e me preparei para conseguir explicar o que era. Montei slides, pesquisei, juntei dados, comprei livros; era um estereótipo que eu não podia deixar passar. Não fazia sentido que a mulher mais feminista que eu conheço não acreditasse no movimento.

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Foi então que a primeira dúvida surgiu: eu, como homem, poderia explicar para uma mulher o que é feminismo? Ou melhor, eu deveria fazer isso? Pesquisei e percebi que, para que uma mulher negra apareça, é necessário muito mais esforço. Para um homem no auge de seus 21 anos isso não fazia diferença, “afinal, são todas mulheres”.

Mas para uma mulher de 60 anos, minha inspiração de vida, isso fazia. O irônico disso tudo é que eu passo por algo parecido: enquanto negro na comunidade LGBTQIA+, meus questionamentos e minhas dores eram similares e, ao mesmo tempo, completamente diferentes. O racismo distorce o que poderia ser algo para todos e segrega o que deveria ser uma luta só.

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Então desisti de ser palestrante e me tornei ouvinte. Percebi que lutar pela dor do outro é muito mais acolhedor do que guerrear. Foquei no que deveria ter sido feito desde o início: ouvir e entender mais de uma luta que, apesar de não ser minha, está ao meu redor.

Com o passar dos anos, minha família se tornou receptiva ao movimento, então a conversa se tornou mais frequente. Conheci várias mulheres como minha mãe e entendi que a mesma luta pode ter ramificações. Ouvir é uma ação que transforma: te faz entender, e, entendendo, você ressignifica seu objetivo e agrega quem inicialmente não faz parte da história para a luta.

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