Aquele que lucra com a corrupção é feliz, muito feliz… até a página dois, quando se descobre que aparências têm validade, até começar a perder, até iniciar a derrocada.
Perde-se dinheiro, perde-se credibilidade, perde-se nome, perde-se amizade, quando parar para ver, perdeu-se a saúde e a dignidade. Esta última fora vendida, e a recuperação é muito difícil! Uma geração inteira pode até usufruir do acumulado da corrupção, mas também passa a carregar a energia que formou tal acumulação – ganância, maldade, vingança, tensão, arrogância, perseguição, cumplicidade tóxica etc. ou seja, gerações inteiras carregarão tudo isso!
Há aqueles que no meio disso perdem, inclusive, a vergonha na cara e continuam no esquema, até começar a perder ainda mais: perdem família (o convívio vira o caos), perdem bens (adquiridos na escuridão), perdem a saúde (desgastada na manutenção do ciclo), perdem a sanidade (destruída na tentativa de viver normalmente naquele meio), traduzindo: ruína atrás de ruína. No final, a vida naufraga em um mar de más energias, e enfrentar o dia a dia vira um contínuo “caixote” daqueles de ondas em ressaca.
Há também, no período de usufruto da corrupção, uma alegria momentânea, muitas vezes acompanhada de um certo esbanjamento. A mensagem divulgada é interessante, é do tipo “eu venci na vida, atura ou surta” – como quem precisa mandar recado para alguém, mas assim age por ser uma felicidade diferente, afrontosa, um fardo. Definitivamente, é porque não se trata de uma felicidade leve, e mostra-la requer certo esforço.
A energia que uniu esse tipo de alegria e esbanjamento é das piores. Aparentemente suave, enquanto se vive na ilusória euforia, na verdade, trata-se de uma carga que costuma até transparecer numa certa “aura” pesada, extremamente perceptível. É o que muitos chamam de “pessoas carregadas”. Elas possuem muita coisa, mas adquirida de forma vil e desonesta. São ainda aquelas que nada possuem e que, para tentar conseguir, são guiadas pela maldade e pela facilidade dos caminhos sórdidos. São pessoas carregadas estas que, inclusive, podem se unir para o fim desejado, qual seja: estar acima sempre, não importando como!
Diversas filosofias dão conta desses tipos de pessoas. Há, por exemplo, a ideia de “carma” que é ligada à “causalidade moral, de tal forma que toda ação (boa ou má) gera uma reação que retorna com a mesma qualidade e intensidade a quem a realizou”. A lei do retorno está ainda na Bíblia, está nas religiões de origem africana. Em todos esses casos, o recado é claro: a coisa volta. Como um tsunami, recua, recua, recua, deixa uma aparente calmaria, mas, quando retorna, o estrago é inevitável. Lava tudo, leva tudo. Afinal, o mundo e as nossas relações são formados pelas energias da natureza e pela natureza das energias.
Aquele que pratica a corrupção, por fim, carrega talvez o maior fardo existente no universo: o de estar bem às custas do sofrimento dos outros. Benfeitorias deixam de ser feitas, a verdadeira caridade é enterrada, a igualdade deixa de ser pensada, a fraternidade deixa de ser praticada, os vícios são alimentados, a virtude se definha, e pessoas são mantidas em um lugar de dependência. Estas, por estarem sendo “atendidas” de certa forma em suas necessidades, não conseguem enxergar as amarras; sentem-se totalmente livres, mas, tendo as asas cortadas, não podem voar. E a tesoura é a mão do corruptor! Eis a crueldade desse tipo de ciclo vicioso. E, invariavelmente, ele volta!