O filósofo grego Platão não gostava da democracia e acreditava que o “governo do povo” não era o sistema ideal para tomar decisões, definir e colocar em prática o melhor para a sociedade. Para ele, na democracia, o povo poderia ser manipulado e eleger desqualificados, demagogos, escolhidos até mesmo pela simples aparência.
Platão era aristocrata, e aristocracia significa “governo dos melhores”. Dessa forma, defendia que o Estado fosse liderado por filósofos dotados das mais altas virtudes que não seriam corrompidos em hipótese alguma, estando aptos a lidar com justiça e verdade em qualquer circunstância; e assim cuidariam do destino do povo.
Mas havia controvérsias. Platão temia que os descendentes desses aristocratas se deixassem levar pela vaidade e pelas facilidades do poder, acumulando riqueza e transformando o governo numa oligarquia, ou “governo de poucos”. O povo seria então colocado em segundo plano, deixaria de contar com lideranças virtuosas, a sociedade entraria em colapso, e da insatisfação social viria uma enxurrada de reivindicações, e os oligarcas seriam derrubados, dando numa democracia, que para Sócrates era uma “forma agradável de anarquia”.
E a coisa não para por aqui. Eles acreditavam que a democracia também fracassaria em suas próprias contradições. Contaminada pelo desejo insaciável de liberdade, pelos infindáveis reclamos populares que não poderiam ser atendidos e pela perda de fé na autoridade, surgiria todo tipo de frustração e histeria coletivas, abrindo caminho para o governo dos tiranos, com suas promessas mirabolantes para atender o delírio das multidões. Passaram-se 2.500 anos, mas, contextualizando-se Platão e Sócrates no Brasil de hoje, não é temoroso afirmar que nos encaixamos perfeitamente nessa tal democracia.
Prefeituras, Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara e Senado, instâncias da Justiça, quem são as pessoas que ocupam suas cadeiras? São os melhores entre o povo, são homens éticos, sábios, filósofos, são figuras notáveis desse país? O primeiro mandatário, a autoridade máxima, o presidente da República do Brasil, é o melhor entre os melhores, capaz de construir o estado perfeito, justo, soberano, como sonhava Platão? Podem parecer perguntas utópicas, mas se não perguntarmos isso, o que haveremos de fazê-lo?
Em 2016, em Ibatiba (ES), um vereador preso por corrupção foi reeleito com número recorde de votos. Seria essa sandice apenas uma “forma agradável de anarquia” no Brasil? Parece coisa pior. Talvez Alcuíno de Iorque responda melhor essa pergunta, dizendo que “a devassidão da multidão está sempre muito próxima da loucura”.
Este ano teremos eleições gerais, e há muita eletricidade no ar. Estarão no pleito os melhores, os homens éticos, os luminares do povo? Valei-nos, Platão e Sócrates! Tome tenência, democracia!
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