Dados descritivos de um estudo mais amplo informam uma reflexão sobre a temática. Na coorte de nascimento mais recente, de 1978-1987 (PNAD 2014), 33,9% de quem atinge educação superior completa no grupo branco vêm de origem no topo social dos melhores empregos (filho/a de profissional, gerente ou empregador), sendo que esta origem representa 15,8% do grupo racial. Vindo de origem privilegiada, 58,1% obtêm escolaridade superior completa. Já no grupo pardo e preto, 22,5% de quem atinge educação superior completa vêm de origem privilegiada, sendo que esta origem corresponde a 5,5% do grupo racial. Vindo de origem privilegiada, 41,7% obtêm escolaridade superior completa. Os dados retratam a educação superior vista pela origem; a distribuição da origem independente da educação; a origem vista pelo acesso à educação superior.
No grupo branco, 15,3% de quem atinge educação superior completa vêm de origem destituída de recursos (filho/a de autônomo precário, trabalhador elementar ou doméstico), sendo que esta origem representa 30% do grupo racial. Vindo de origem destituída, somente 13,9% obtêm escolaridade superior completa. Já no grupo pardo e preto, 20,3% de quem atinge educação superior completa vêm de origem destituída, sendo que esta origem corresponde a 42,3% do grupo racial. Por outro lado, vindo da origem destituída, somente 4,9% obtêm escolaridade superior completa.
A hierarquia da origem de classe se impõe em ambos os grupos raciais. Entretanto a hierarquia racial agrega uma desigualdade específica bastante importante, que se manifesta tanto na distribuição quando na trajetória social dos grupos. O quadro descritivo retratado aponta a importância de se combinar critérios de classe e raça no entendimento da trajetória dos grupos e no desenho de políticas públicas (em particular de ação afirmativa na educação). O grupo branco com origem destituída, além de representar um elevado contingente, é afetado fortemente em sua trajetória por esse condicionamento. O grupo pardo e preto com origem privilegiada, embora seja bem menor, está em situação muito mais favorável do que as origens destituídas em ambos os grupos raciais. Abordagens e ações são mais inclusivas e transformadoras, em particular quando a sociedade é mais desigual, quando há no seu horizonte amplos segmentos com desvantagens de origem, trajetória e condição.
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