A enfermagem, que tantas vidas salvou na pandemia, lutou nos últimos meses pela criação do piso salarial da categoria. Agora, um mês após sua aprovação, os profissionais da área começam a se deparar com o óbvio: demissões.
Esse é mais um caso de intervenção na economia que até pode ter boas intenções, mas gera resultados perversos, algo que Walter Williams, Thomas Sowell e Milton Friedman dedicaram suas vidas a expor.
A notícia de um lar de idosos no Sul que demitiu todos seus enfermeiros e os substituiu por cuidadores e voluntários não surpreende. É só mais uma demonstração de que as leis básicas da economia ainda funcionam e de que o Brasil segue buscando soluções fáceis para problemas econômicos complexos.
Preços – o seu salário é um – não deixarão de ser formados a partir da lógica de oferta e demanda. Nosso apreço pelos profissionais da saúde não elimina o fato de que o valor de um profissional no mercado está diretamente relacionado à sua capacidade produtiva.
Criando um piso, o Estado diz que todo profissional deve receber o equivalente a um nível mínimo de produtividade entregue ao seu empregador, ainda que não o faça ou que os salários desse setor para aquela região, determinados no mundo real por oferta e demanda, sejam inferiores a esse piso.
Assim, o custo de operação das empresas aumenta, e elas precisam reorganizar seus recursos para pagar profissionais que, em um mercado livre, não necessariamente receberiam tudo aquilo – ainda que o mereçam.
As empresas que podem fazer isso deixam de focar o aumento de produtividade para pagar o grupo beneficiado pelo piso. As que não conseguem são obrigadas a demitir ou simplesmente quebram, deixando ainda mais desempregados.
Parafraseando Woody Allen: a realidade pode não ser como gostaríamos, mas ainda é o melhor lugar para comer um bom bife. Então, aprendamos a lidar com ela enquanto há bife para comer.
No mundo real, quem ganha com um piso salarial? Profissionais qualificados, que entregam ao empregador mais do que o valor do piso, profissionais de cidades de renda mais alta, onde circula mais dinheiro e os salários já são maiores, e profissões correlatas, que ocupam o papel dos profissionais que receberiam o piso, mas estão sem emprego por causa dele.
Quem perde? Recém-formados e trabalhadores com pouca qualificação ou de cidades de renda baixa. E toda a sociedade, que poderia ter mais vagas de emprego, mas vê as empresas reduzindo seu crescimento e abrindo mão de buscar mais produtividade para pagar salários acima dos reais do mercado.
Isso significa que estamos condenados a receber mal para sempre?
Não. O Brasil não é pobre por determinismo. O Brasil é pobre por escolha.
Geração de riqueza e melhores salários se dão por meio de aumento de produtividade. E aqui está o grande problema do Brasil.
Em vez de aumentar nossa produtividade, investindo em educação, tecnologia e infraestrutura e abrindo nossa economia para a competição internacional, de modo a estimular o aumento de produtividade de nossos trabalhadores e empresas, nós protegemos nossa incompetência com ações protecionistas.
O resultado? A produtividade média do trabalhador brasileiro é a mesma de 40 anos atrás.
Uma pessoa que entrasse em coma em 1981 acordaria em 2022 e não saberia viver diante das transformações tecnológicas dos últimos 40 anos.
Um economista pesquisando a produtividade do trabalhador brasileiro que entrasse em coma acordaria e continuaria sua pesquisa como se nada tivesse acontecido.
Eis o preço do populismo na economia.