Há aproximadamente três meses, tudo mudou. O que vimos, vivemos e ainda estamos presenciando na atual pandemia está entre os momentos mais singulares na história mundial. Isso basta para sabermos da importância deste momento. Em pouco tempo, muitas vidas se foram, vítimas do coronavírus. Para os que ficam, além da dor em suas mais diversas formas e níveis, permanece uma certeza: a da importância do conhecimento.
Essa assertiva pode parecer banal e óbvia, mas não é. Em meio a tantas incertezas, há que se reconhecer que o norteamento social busca suas referências em avaliações críticas, parcimoniosas, subsidiadas pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais nos quais se encontram as evidências científicas e suas diretrizes, nem sempre consoantes aos interesses mais imediatos da ordem econômica e de seus imperativos. Num momento como esse, o ponto central é a proteção, prioritária, da vida humana, com toda a complexidade de sua significação. Em pouco tempo, as noções de políticas públicas, Estado, Ministérios, Governo tornam-se algo muito imediato e determinante, na medida em que são esferas que têm como compromisso zelar por nós como um corpo coletivo a ser protegido e resguardado.
Hoje vemos nossos lares como reduto e proteção, a despeito de toda a variedade de moradias em um país tão desigual. Reconhecemos nas máscaras um passaporte possível ao trânsito externo, quando esse se faz realmente necessário, e começamos cada dia mais a frequentar o convívio social sem sair de casa, nos espaços híbridos e intersticiais das redes, para aqueles que podem usufruir dessas conquistas. Com o passar do tempo, entretanto, o corpo começa a notar as ausências, de toque, de abraços, de não se poder relaxar no controle das etiquetas – regra que tantas vidas têm salvado.
Como diria a canção de Ataulfo Alves, poderíamos pensar que “eu era feliz e não sabia”. Concordemos, éramos felizes e não sabíamos. Por outro lado, em nosso presente, já somos muito melhores, redescobrimos coisas que jamais poderíamos saber sobre nós mesmos, sobre os nossos limites e forças, nossas prioridades e afetos, sobre a permanência da solidariedade nos cenários adversos e da evidente capacidade humana de se reinventar para permanecer.
Se ontem, de certo modo, éramos felizes e não sabíamos, no calor revigorante dos abraços fartos, hoje, já somos, em outros aspectos, também melhores, ainda que com muitas pegadas doloridas de saudade, e no futuro, se os avanços das pesquisas e do conhecimento colherem frutos, iremos saboreá-los com temores e cicatrizes, mas com o gosto ímpar da plenitude, aquela oriunda da força.
Aos que se foram, a nossa dor inconformada; aos que por nós saem de casa para que nela possamos ficar, o nosso incondicional agradecimento; a todos os que vivem esse momento, parece urgente a importância de uma gratidão declarada ao Conhecimento e à Educação – objeto e razão de ser dos centros de pesquisas, dos laboratórios, das universidades e das escolas, estas últimas origem de tudo no âmbito do saber sistematizado.
Não nos esqueçamos disso, hoje, amanhã e depois, dos locais de ensino, em sua gênese mais tenra ou na mais extrema linha, das grandes descobertas, onde nascem os lemes mais sólidos e os refúgios que, de fato, nos protegem em meio a tantas incertezas.