Site icon Tribuna de Minas

Vem cá, só eu estou sentindo falta?

PUBLICIDADE

Expressões artísticas como a música são uma forma de exteriorizar sentimentos, desejos e frustrações para a maioria das pessoas. Conceito que não está muito longe da realidade, pois durante bastante tempo a música serviu como um meio de levar a humanidade para uma visão mais crítica das questões que afligiam o mundo, como a guerra, a discriminação, a opressão, etc.

É nesse contexto que composições musicais como forma de protesto, principalmente nas décadas de 1960 a 1980 no Brasil, com o regime militar e o surgimento do punk rock, respectivamente, serviam de plano de fundo para intervenções políticas na realidade social do país e, de certa forma, contribuíam para a transformação dessa sociedade, levando às pessoas algo mais do que simplesmente seu ritmo musical. Muito embora a música de protesto tenha sido formada no âmbito de uma burguesia, dando certa contraditoriedade ao movimento, já que grande parte de seus protagonistas estava na posição oposta dos debates populistas, letras que eram dotadas de significado político/ideológico, e que condiziam com o período histórico em que estavam inseridas, permanecem muitas vezes atuais no cenário brasileiro, nos permitindo acreditar que o formato não envelhece.

PUBLICIDADE

Entretanto o que temos notado na nossa atual conjuntura é uma carência de composições que sirvam de trilha sonora para nossos gritos já tão abafados e substituídos por protestos mais remotos – diante da necessidade da reclusão – com o tempo maior que o público está passando sozinho, redescobrindo gostos e conectando consigo ao mesmo tempo em que acompanha a dança da República. O cenário musical tem nos deixado órfãos de vozes contestadoras para compor nossas inquietação e tristeza e nos abastecer de sentimentos encorajadores ao mostrar, através da música, que não estamos sozinhos. Os artistas de alcance nacional estão em silêncio. Mesmo com a expansão contínua do consumo de música digital, mesmo com o contexto Brasil dos últimos anos, mesmo com toda a inércia brasileira diante desse contexto, com toda liderança pífia a que estamos submetidos, todo cansaço, todo choro, todo grito preso na garganta. Mesmo com a necessidade da arte para amenizar tudo isso. Eles estão em silêncio. Seguimos com o brado por dar e, quem sabe, com uma mínima esperança de que toda ausência antecede grandes feituras.

Exit mobile version