Tem razão o ministro Gilmar Mendes quando adverte para a necessidade de reformas de nossas instituições. Sua análise é, porém, incompleta, pois, na sua visão, há uma hipertrofia de algumas instituições pelo excesso de poder e de autonomia financeira e administrativa concedidos a elas, propiciando, não raramente, a prática de abuso de poder, até mesmo diante de outras instituições. Fossem apenas estes os problemas de nossas instituições, até que não seria muito difícil corrigi-los.
A questão, no entanto, parece-me estar na competência e na seriedade de seus gestores e membros. A ação, ou omissão, dos que têm a obrigação de gerir o país, sejam eles políticos, sejam servidores profissionais, levou à total desmoralização do Estado brasileiro. A consequência disso? O surgimento de um Estado paralelo, comandado com mão de ferro pelo crime organizado, que aterroriza e faz reféns cidades inteiras, mas, em especial, a população mais pobre. Que faz ameaças veladas ao Estado, como as que enfrenta agora o ministro da Segurança Pública, Raul Jugmann, que tem seus passos seguidos.
Além das ações do crime organizado, há as do crime em outro nível, o do colarinho-branco, que não usa a força física, mas a capacidade de corromper as instituições através da corrupção. Corrupção que, registre-se, é arma também da marginalidade.
São problemas que se agravam com o silêncio cúmplice da população que a tudo assiste de forma pacífica, ou amedrontada, e, para justificar-se, iguala a todos, com o argumento pobre de que bandidos e governantes são a mesma coisa. Pode ser. Se esquecem, porém, que criminosos somos todos nós que agimos como cúmplices silenciosos, vendo nossos direitos serem desrespeitados por todos os tipos de malandros que infestam o país. Essa cumplicidade ainda vai custar muito mais caro ao país, e, quando quisermos reagir, já não teremos como.
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