Imagine a seguinte cena: por perseguição, para não ser assassinada, uma criança é expulsa de sua pátria, tem que se esconder em outro país… Lá cresce, forma as bases de seu conhecimento e, ao se sentir pronta, formada, retorna para o seio de seu povo. A princípio, não é reconhecida, é rechaçada, vista com desconfiança… Mas, depois de um tempo, o povo começa a perceber sua missão, e assim esse jovem consegue formar um grupo que resiste à tentação do acúmulo e do poder, multiplicando dons e tornando mais belo este mundo…
A primeira coisa que deve ter lhe vindo à cabeça é o Jovem Nazareno, que fugiu para o Egito – no Continente Africano – para lá se esconder (só aí já há uma pista interessante: uma criança branca, de olhos claros, como se propõe a imagem do Nazareno, conseguiria passar desapercebido em comunidades negras?)… Ainda no Egito Ele cresce, aprende tradições, ouve dos mais velhos e um dia retorna à Galileia, onde multiplica os pães, fala sobre o Reino e deixa uma comunidade onde “todos tinham tudo em comum”…
Mas convido você a refletir comigo outra história que tem rumos muito parecidos com essa: a do povo negro. Retirado à força de sua pátria original, os negros chegam a essas terras e – ainda que oprimidos, perseguidos, desprezados – muito por aqui aprendem. Se tornam então construtores, músicos, curandeiros, operários… Multiplicam os afetos e no partir do pão sobrevivem, resistem, vencem a tirania da opressão. Criam comunidades que acolhem aos irmãos e se tornam modelo de sobrevivência e união…
Assim como uma instituição social da época se apossa de Jesus e lhe dá feições diversas da que Ele realmente teve, grupos sociais se apossam da História e apagam as tradições do povo negro, desprezando sua enorme colaboração para a “Cidade do Parahybuna”.
Como com cinco pães e cinco peixes Jesus opera o milagre da multiplicação, na partilha dos dons e dos bens, a comunidade negra gera fartura para os seus nos mais diversos “Cafés Pretos” que a História conheceu… “Bastariam dois pães e dois peixes, e o milagre do Amor, para acabar com tanta fome, para acabar com tanta dor!”
Cada um dá um pouco do que tem, e todos ficam com muito mais do que poderiam ter. Há pessoas que ainda querem se apegar a um Jesus preso à Cruz… E é esse mesmo grupo que pretende manter os negros presos a correntes, sempre minimizando sua potência, negando a Ressurreição que significa Vida em Abundância para todos, na união das ações!
Isso lembra a vez em que o Nazareno reuniu seus amigos e lhes perguntou sobre quem eles achavam que Ele era. A pergunta se mantém: quem dizemos que Cristo é? O Libertador que traz liberdade e promoção da Vida ou um “capitão do mato” que nega seus irmãos e prefere os ver atrelados a correntes do que homenageados e honrados como verdadeiros cidadãos promotores da abundância da Vida que esperamos?