No Brasil, com raras exceções, as tarifas do transporte público urbano rodoviário não são subsidiadas. Você, usuário, é quem banca integralmente a passagem e, além disso, também paga para que muita gente viaje de graça. As gratuidades em Juiz de Fora chegam a 20% do total de passageiros transportados.
Parece simples, mas não é. O custo do transporte público urbano rodoviário é muito alto. Combustível, lubrificantes, pneus, peças de reposição, limpeza, salários, encargos, impostos, tudo isso e muitos outros itens são componentes do custo. Assim, a tarifa é o custo total dividido pelo número de passageiros transportados em cada mês.
As concessionárias, operando em substituição ao Poder Público concedente, têm que se esmerar em oferecer o máximo em conforto, segurança e eficiência no desempenho da complexa missão de transportar as pessoas em seus necessários deslocamentos diários.
Essa repentina e desastrosa pandemia da Covid-19 mudou radicalmente os rumos da vida. O mundo agora terá que se reinventar diante do risco a que estamos expostos por esse perigoso vírus. O isolamento da população, o trabalho em casa (home office) adotado pelas empresas, assim como os transportes, que, de uma hora para outra, perderam cerca de 70% da demanda, tornou-se impraticável. Pior ainda, agora, terá que reduzir a quantidade de pessoas transportadas. O distanciamento mínimo de um metro entre as pessoas tem que ser mantido dentro dos ônibus, evitando os riscos de contaminação mútua.
Com a queda da demanda, em 60 dias as empresas de transporte coletivo de Juiz de Fora amargaram um prejuízo de R$ 15 milhões. Antes da pandemia, eram transportados 340 mil passageiros/dia, agora são 100 mil passageiros/dia. Eram 539 veículos em circulação, agora são 317. As viagens diárias eram 12.139 e agora são 6.038, redução de 50,22% das viagens.
Se antes o equilíbrio econômico/financeiro já estava afetando as concessionárias, agora, enquanto durar a pandemia da Covid-19, muito mais, e isso tem que mudar. A mentalidade brasileira dos administradores públicos municipais tem que evoluir no sentido de admitir que as tarifas do transporte público por ônibus têm que ser subsidiadas, assim como ocorre hoje com os modais sobre trilhos, em face ao alto custo de implantação da estrutura desse tipo de transporte.
Assim, para manter a qualidade e não onerar os usuários, os sistemas de transporte por ônibus, em muitas cidades do mundo, são subsidiados, como, por exemplo, em Praga (74%), Madri (56%), Berlim (54%), Londres (34%), Paris (60%) e Luxemburgo, o primeiro país do mundo a oferecer transporte gratuito aos seus habitantes.
A tarifa do transporte coletivo rodoviário urbano deve ser incluída nos orçamentos municipais. O desequilíbrio entre custos e tarifas ameaça a qualidade e a viabilidade do sistema de transporte público por ônibus. Tarifa zero para o usuário, esta deve ser a meta!
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