As recentes gravações divulgadas pela imprensa de Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, e também envolvendo um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL), escancaram aquilo que todos sempre imaginaram, mas só não tinham as evidências tão claras. Ou seja, a corrupção está enraizada em toda a estrutura político-administrativa de nosso país, determinando os rumos da sociedade brasileira.
No dia 17 de março deste ano, ainda no calor das manifestações de rua contra o Governo da presidente Dilma Rousseff e a favor de seu impeachment, escrevi artigo na própria Tribuna alertando sobre as perspectivas para o país abertas com tamanhas manifestações. Naquela ocasião, apontava como possibilidades para o desfecho da crise uma via democrática, uma via fascista e uma via corrupta. Reconhecia, e reconheço, a importância das pessoas nas ruas reivindicando seus direitos e protestando contra governos corruptos e de condutas antissociais. Alertava, no entanto, que o esvaziamento de senso crítico e de sensatez nos movimentos nos ameaçava a não colher como fruto de toda a insatisfação uma reforma política ampla com resultados efetivos para o Brasil, mas que nos guiaria para caminhos de extremismos fascistas ou para a inocente manipulação que trocaria grupos corruptos no poder por outros ainda mais corruptos. Infelizmente, esta foi a via que se consolidou.
Desde o afastamento de Dilma Rousseff pelo Senado Federal, estabeleceu-se completo silêncio daqueles que tanto vociferavam pelas ruas contra a corrupção vestindo camisas da CBF. O Governo interino que assumiu o poder não apenas foi formado por corruptos famosos e tradicionais como também logo demonstrou sua faceta machista e racista e retomou políticas econômicas rejeitadas da década de 1990, ameaçando direitos sociais e trabalhistas conquistados. Lembre-se ainda de que, na tomada do poder, Eduardo Cunha persistia como presidente da Câmara dos Deputados. Mesmo assim, nenhuma outra manifestação daqueles milhares foi verificada. Os áudios divulgados recentemente atestaram a vergonha de uma multidão manipulada, sem rumo e sem conhecimento, de onde se canalizou o ódio político na disputa pelo poder.
Está mais claro do que nunca que o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi articulado como golpe, financiado pela Fiesp, por partidos e políticos diretamente interessados na queda e contou com a inocência de grande parte da população para atender a interesses espúrios. Mas ainda há tempo, e este é o momento de reorganizar esta República. É preciso voltar às ruas com clareza e coesão, exigindo a via mais saudável da reforma política, dos direitos sociais e do fortalecimento democrático.