Estudei na roça, e a maior parte de minha formação se deu em instituições públicas, exceção feita ao segundo grau, em colégio particular. Graduação, mestrado e doutorado em instituição federal, contemplado com bolsas de iniciação científica e pós-graduação. Filho de uma professora primária, daquelas normalistas que usavam saias azuis plissadas, e de um homem simples, com letramento pouco acima do essencial mas de grande erudição, com quem adquiri o hábito da leitura, fui criado sob a égide de que poderia ser na vida o que eu quisesse: dependeria única e exclusivamente de mim!
Minha base educacional começou em 1974, época em que professores eram respeitados, boletins bimestrais demandavam assinatura dos pais e “ai de mim” se houvesse qualquer reprimenda escolar decorrente de equívocos comportamentais. Minha criação foi farta em amor e abundante em carinho, mas contou com a rigidez em sua extensão devida.
Naquela época, no ensino primário, havia a matéria Comunicação e Expressão. Não bastava comunicar: necessário se fazia expressar corretamente e, por tal demanda, diários eram os ditados, bem como as composições prescritas como deveres para casa, compulsórios. No então denominado ginásio, a referida matéria foi sucedida pelo Português, que manteve a mesma denominação no segundo grau.
A preparação para o vestibular detinha, entre outros temores, a famigerada redação, por muitos tida como malfadada. Sua fama persiste no atual contexto em que os postulantes ao ensino superior, em sua maioria, optam por não ler, exceto quando compelidos, ou por formas menos nobres de enriquecimento vocabular em detrimento da literatura de qualidade. A imprensa escrita, antes referência da língua portuguesa culta, aboliu, em geral, os revisores linguísticos, portando em seus conteúdos verdadeiras injúrias às normas vigentes nos tratados lusófonos ortográficos; a imprensa falada replica tais incorreções acrescidas de falhas grosseiras de concordâncias verbais e nominais. A escrita cifrada que predomina nas redes sociais somente contribui para piorar esse panorama e descaracterizar a língua portuguesa.
A corriqueira incorreção linguística vem galgando patamares tais que os letrados chegam a ser tomados por pedantes tão somente pela correção em sua forma de expressar. Mas, afinal, estaria errado escrever e falar corretamente?
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