Afeto é um conceito que designa um estado da alma. É uma mudança, ou modificação, que ocorre simultaneamente no corpo e na mente.
As relações humanas são as mais complexas do reino animal, e cada ser humano é capaz de sentir afeto, o que é algo muito positivo para quem dá e recebe. Talvez a psicanálise tenha mais a dizer sobre isso. O perigo aqui é ficar vulnerável a relações problemáticas, e isso é possível quando se acredita que somente o outro pode oferecer afeto, ou seja, quando se deposita no outro toda a responsabilidade de se completar, quando na verdade também se pode fazer isso por si mesmo e de diversas formas. O corpo tem uma potência inigualável para afetar e ser afetado por tudo que o cerca.
É comum pensar o quanto as relações virtuais nos aproximam e nos afastam na mesma proporção, e o quanto os quadros depressivos ou de ansiedade poderiam ou não ter raízes no contato com as redes sociais. Principalmente levando em conta as relações líquidas de Bauman, em que um touch na tela tem mais espaço/tempo que o toque na pele, e equilibrando com as facilidades e o cerceamento das distâncias geográficas proporcionadas pela tecnologia.
Mas, num momento em que o isolamento passou a ser uma medida para preservação da saúde física, temos como janela para o mundo a tela dos celulares. No meio de tudo isso, o afeto – aquele sentimento terno de afeição e, como tão bem definido por Espinosa: as afecções do corpo, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída – passou a ter um viés obrigatoriamente diferente. Se antes substituíam-se momentos de vida por momentos on-line e se confundiam likes com afeto, hoje são esses meios que nos colocam próximos do coração de quem amamos.
De uma hora para a outra, estamos sobrevivendo a reuniões remotas, aulas a distância, lives das nossas bandas favoritas nos canais da internet, e entendendo que, por enquanto, essas são as novas formas de abraçar. E que muitos nem assim.
Espinosa nos leva a entender os afetos para utilizá-los de forma potente. Tudo que nos toca nos afeta, seja para alegria, seja para a tristeza. Que a gente possa sentir essa potência através da compaixão, da arte, do ser solidário, da música, da empatia e todas as formas possíveis que esses abraços saem e chegam até nós. Mesmo que, nesse momento, apenas pelas telas dos celulares. Isolamento social não é isolamento afetivo. Use o que estiver ao seu alcance. Sobreviva.
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