Nas redes sociais, nas propagandas de bancos, nos intervalos de programas, diariamente nos deparamos com atores e outras personalidades do meio televisivo trazendo mensagens de encorajamento, com conteúdos do tipo: “Vai ficar tudo bem! Em breve, tudo voltará ao normal.” De fato, essas vinhetas podem despertar um certo encorajamento, tendo em vista o nosso medo do novo, da mudança, do desconhecido. A possibilidade de tudo voltar ao padrão anterior, que precedeu o turbilhão no qual mergulhamos, pode ser um “acalanto” para alguns.
Outrossim, também temos a perspectiva de profissionais, analistas, pensadores, palpitadores, etc, com expertise em relações trabalhistas e sociais, afirmando com plena convicção que essas conexões nunca mais serão as mesmas, pois empresas e sociedade em geral enxergarão novas possibilidades de ganho e qualidade de vida, sem afetar (ou aumentando) a produtividade e o padrão das relações. Com isso, processos seletivos e a própria execução dos termos acordados no vínculo empregatício, de fato, nunca mais serão os mesmos.
Agora, vamos aprofundar nossa análise, trazendo-a para o âmbito individual: afirmar que ninguém jamais será o mesmo depois da pandemia e suas consequências pode ser subjetivo e relativo, pois atitudes individuais é que vão definir o que de fato virá e qual rumo tomaremos. Podemos sair mais agressivos e arredios disso tudo, culpando céus e terra por tudo de ruim que acontece, ou podemos e devemos, de fato, gerar reflexões individuais que vão elevar nosso padrão de pensamento e criticidade. Podemos ter novos empreendedores, com ideia e gás para transformar a sociedade, gerando benefícios palpáveis, além de renda e emprego, ou podemos ter pessoas com uma percepção ainda maior de dependência externa, daquilo que as autoridades deveriam fazer por elas, e se não fizerem, ninguém mais estará errado, exceto o governo (em qualquer uma de suas esferas). Podemos perceber a importância da construção de um lar saudável e que a instituição “família” é a mais sólida (ou deveria ser) das vertentes da humanidade, ou criar ranço de nossas casas, valorizando mais a rua do que a segurança do lar.
Eis o “x” da questão: essas reflexões, decisões e consequentes posturas dependem do comportamento comum da sociedade, das decisões e chancelas de um órgão da administração pública local ou mundial, ou elas possuem caráter pessoal?
Existe um pensamento franciscano bem comum que diz: “a hipocrisia da sociedade é fruto da hipocrisia individual de cada cidadão”. Não se sabe ao certo quando essa máxima surgiu e quem a expôs, mas ela clareia a resposta para a nossa questão, diante da necessidade de acertar o alvo e atingir uma evolução prática e eficaz, no ambiente imediatamente acessível a nós.
Quem já não ouviu a célebre frase de Jesus, que, ao instruir seus seguidores a não serem hipócritas ao abordar o erro alheio com o pretexto de “ajudar”, disse: “antes de tirar o cisco que está no olho do seu próximo, tire primeiro a viga que está no seu”.
Enfim, tudo tem a ver com caráter e suas formas de (des)construção individual. Alguém disse que “caráter é a fisionomia moral do homem”. Segundo Demócrito, “o caráter de um homem faz o seu destino”. Não há construção coletiva se valores pessoais não são cultivados, pois suas bases não se sustentam. Então, cabe a cada um de nós refletir e trabalhar nos avanços que queremos alcançar neste período de isolamento e densas incertezas. Que tipo de pessoa o mundo vai encontrar quando você (re)abrir suas portas e se (re)apresentar a ele?
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