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Afinal, quem se importa comigo?

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Afinal, quem se importa comigo? Foi essa a melancólica pergunta que ouvi, não faz muito tempo, de uma mulher vítima de estupro. Ainda sob o impacto da atrocidade que sofrera, ela sequer conseguia levantar a cabeça e olhar em meus olhos. Prostrada, envergonhada, esvaziada da mais mínima autoestima, ela alternava choro e parecia estar “derramando lágrimas eternas e arrastando males sem fim”, tal como Electra, personagem do poeta grego Eurípedes.

Essa pergunta, na verdade, está na alma de toda mulher vítima de estupro ou de outros tipos de barbárie que se abatem, diariamente, sobre centenas, milhares de mulheres brasileiras. Violência culturalmente entranhada, amadurecida, institucionalizada. Violência naturalizada, incrustrada na mente e nos corações.

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É para responder a esse sentimento que o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Juiz de Fora está promovendo a Campanha dos 21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, que teve início no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, e terminará no dia 10 de dezembro, que é, justamente, o Dia Mundial dos Direitos Humanos.

Ter começado essa campanha no Dia da Consciência Negra traduz a emblemática necessidade de compreendermos que, no imenso contingente de vítimas da violência doméstica, a maioria é composta de mulheres negras, fato que cobra de nós uma consciência aprofundada e uma tomada de posição acerca do quanto essas mulheres sofrem, seja em razão da sua condição de mulheres, seja em razão da sua condição de negras, o que confere um teor de maior perversidade a essa violência.

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Importa dizer que a Campanha dos 21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher parte, fundamentalmente, da premissa de que tal violência, por mais crônica e estrutural que seja, não deve, não pode ser considerada como um destino. Trata-se de uma construção social e, como tal, é passível de ser desconstruída! Dizia Darci Ribeiro que ao povo brasileiro só se abrem duas alternativas: resignar-se ou indignar-se diante das nossas históricas injustiças!

Quanto a nós, mulheres, parte expressiva do povo brasileiro, indignação é nosso nome, mas não deixamos de ter outro: esperança!
Mas cumpre enfatizar que a nossa luta não é contra os homens, mas contra essa multissecular dominação masculina, forma de ideologia da qual mulheres e homens são, de distintos modos, vítimas, e da qual homens e mulheres precisam se emancipar, percebendo que eles e elas comungam de igual dignidade e merecem recíproco respeito, já que foram criados “à imagem e semelhança de Deus”!

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Voltemos à pergunta do início: afinal, quem se importa comigo? E aqui respondemos a essa mulher e a todas as mulheres vítimas de violência: nós nos importamos e, mais do que isso, nós nos mobilizamos, pois acreditamos que o capítulo final dessa história está sendo escrito por nós, mulheres e homens de boa vontade, certos da justiça da nossa causa e, por isso mesmo, transbordantes de indignação e de esperança!

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