Os ensinos de Jesus trazem em si uma profunda lição de vida. Muito mais que qualquer aspecto religioso, o Divino Mestre, em suas palavras, recheia a vida do aprendiz de tal sabedoria e exemplos que as mais complexas questões são banhadas de luz esclarecedora. Para tanto, como exortou o próprio Mestre, faz-se necessário que se tenham olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Em uma célebre passagem anotada por Mateus, em seu Evangelho, Jesus recomenda: “Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos”.
Todo leitor menos compenetrado, com certeza, já se assustou com tal afirmativa do Cristo. Daí a necessidade “dos olhos de ver”. O Nazareno não está afirmando que devemos deixar os cadáveres cuidando dos cadáveres. Cadáver é carne sem vida, o morto é aquele que se ausenta ou recusa-se a viver.
São aqueles muitos que passam diante de nossos olhos, perambulando nos descaminhos em busca de oportunidades salvadoras e soluções definitivas para seus desejos passageiros. Os milhares de seres que se recusam entender e aceitar o progresso e debatem-se em suas paixões mesquinhas, digladiando contra o próximo de quem discorda. Os encerrados em paredes do egoísmo, negando-se ao convívio fraterno, destroem os mais sublimes afetos, pela negativa de compartilhar a experiência da vida cotidiana.
Mortos vivos em sepulcros dourados, enredados nas sombras dos vícios, sufocam-se nas amarguras da ilusão, tornam-se vítimas de sua própria tentação. Vivem, debatendo-se em longas e penosas tormentas morais, criando para si verdadeiros infernos de arrependimentos e remorsos, que os vão empurrando ao precipício da solidão e do sentimento de abandono, isolados no próprio mundo, que, iludidos pelo materialismo, com muito afinco, ansiaram por construir ao longo de toda uma encarnação.
Segue-me, conclama o Cristo, e para atender ao nobilíssimo chamado devemos aguçar nossos sentidos, tendo olhos de ver e ouvidos de ouvir. Assim, observamos a multidão de “zumbis” vagando planeta afora e, defrontando-os com os ensinos do Cristo, deixamos de ser mortos a enterrar outros mortos, na justa medida em que a cada dia ao despertar, na prece matinal, rogamos ao mais Sublime que não nos deixe cair em tentação e que perdoemos sempre. E imersos nas energias curativas seguimos nossos passos normais, dissolvendo a dura esfera do próprio eu, buscando a lida coletiva para a paz e a felicidade. Saindo cada dia mais de nós mesmos, para encontrar a dor do vizinho que chora em silêncio, a criança que anseia por um acalento, o revoltado que busca palavras de serenidade e os tantos angustiados que olham em redor de si mesmos e nada veem além da solidão.
Despertemos nossos mais sublimes sentimentos, que agora imersos no bálsamo do Cristo nos habilitará a viver com todos, por todos e para todos; como nos pede o Cristo de Deus ao proclamar: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.