Nada mais realista do que a análise do escritor e jurista Darcy Azambuja, morto em 1970, sobre os partidos políticos: os defeitos dos partidos são, em verdade, defeitos dos homens. E, como temos excesso de políticos com defeitos, o resultado são os partidos que existem no país – mais de 30 – que nada representam, que não têm qualquer representatividade, nem mesmo o respeito e a confiança dos que a eles são filiados.
Exemplo? O presidente Bolsonaro, que em menos de 30 anos de vida política já assinou a sua nona filiação e exatamente a uma legenda – PL – que mais criticou e acusou de corrupção na sua campanha em 2018. Bolsonaro – e aqui ele é apenas um exemplo – se filiou a um partido que lhe pareceu, no momento, a melhor opção, financeira e em submissão, mas com o qual não tem compromissos.
No espelho se vê também o PSDB, incapaz de se compor para, unido, tentar chegar novamente à Presidência da República, com quem esteve apenas com Fernando Henrique. Com Doria, a legenda tem chances, mas caminha para ser novamente derrotada pelo caciquismo de alguns de seus membros, incapazes de se verem como uma peça de engrenagem, não como todo o motor. Claro que ainda tem tempo de esses caciques tomarem juízo.
Bom, tem também o PT, que, como os demais, também tem donos, só que donos mais consolidados, que onde pisam não nasce nem capim. E assim segue sua saga de se submeter a Lula. Para não me estender mais, lembro do MDB, sombra do PMDB de Ulisses, Tancredo, Brossard, Covas e tantos outros, hoje uma legenda sem expressão.
Mas, se olharmos bem, com imparcialidade, não há diferença entre eles, sejam partidos mais antigos ou legendas recentes, criadas com objetivos pouco ou nada republicanos, de olho nos recursos do fundo partidário e na possibilidade de aderir a alguém com chances de chegar ao poder para, então, mamar gulosamente nas tetas governamentais. Partidos deveriam ser associações que reunissem pessoas, não apenas políticos que disputam mandatos, com a mesma convicção política, com o objetivo de chegar ao poder para colocar em prática um programa de acordo com seus ideais.
Deveriam ser, e no Brasil não são, associação dentre pessoas com ideias em comum sobre temas sociais e econômicos. Mas os nossos, infelizmente, não são assim. Existem apenas no período eleitoral. Fora disso, não interagem com a população, não buscam o diálogo na articulação de pautas de interesse. Alguns partidos tidos de esquerda ensaiam esse tipo de ação, mas com radicalismos que visam apenas promover os seus donos. Enfim, nossos partidos nada representam. Têm funções meramente cartoriais, pois ser filiado a um deles é exigência legal para registrar candidatura. E é apenas para isso que eles existem. Não deveria ser assim, mas é. São vitrines dos defeitos de seus membros.
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