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Respeitemos o arcebispo dom Gil

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Não tive acesso ao recente pronunciamento de dom Gil sobre a Covid-19, que gerou algumas críticas, mas entendo que devemos respeitar o arcebispo em razão de sua relevante autoridade religiosa e também em razão de seus inúmeros pronunciamentos a favor da ciência, dos cuidados com os doentes e, sobretudo, em razão da campanha que ele mesmo promoveu a favor da vacinação. Nesse sentido, o arcebispo declarou, por diversas vezes, que a vacinação contra a Covid-19 é um dever sagrado, porque a vacina não defende apenas o indivíduo, mas beneficia toda a comunidade. Esse pronunciamento a favor da vacinação reflete a postura de toda a Igreja Católica, que, como sabemos, sempre andou de mãos dadas com a medicina, como atesta o trabalho plurissecular das Santas Casas de Misericórdia instituídas no século XV sob a proteção da Igreja.

Dom Gil se preocupa em lançar palavras de esperança para o povo já sofrido com essa pandemia que se prolonga, e, nesse sentido, parece-me válido questionar, de maneira racional e respeitosa, sobre os critérios adotados para a divulgação da mortalidade em razão da Covid-19. Ao divulgar os óbitos ocorridos em nossa cidade, a Tribuna de Minas menciona as chamadas comorbidades dos falecidos. Mas, na divulgação do número total de mortes no país (cerca de 525 mil), tal informação é omitida pelos meios de comunicação, ou seja, não sabemos em que condições de saúde estavam os contaminados ao morrerem. Isso não é irrelevante, porque certamente, em muitos casos, a Covid-19 não foi a causa primária da morte, embora possa estar presente no atestado de óbito. Essa consideração não equivale a minimizar a gravidade da Covid-19, mas serve para encontrarmos, de maneira racional e justa, uma dimensão mais precisa do problema.

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Aqui é justo refletir sobre como têm se comportado os meios de comunicação diante da pandemia. Sem dúvida, a conscientização a respeito do perigo da Covid-19 é um serviço de suma importância que os jornalistas exercem; mas, por outro lado, os profissionais de jornais, rádios e televisões não estão isentos daquela tentação de se cair numa excessiva dramatização dos fatos, que acaba por prejudicar leitores, ouvintes e telespectadores. De fato, ninguém aguenta conviver apenas com notícias ruins, e é preciso levar leveza às informações através de esperanças concretas.

A educação do povo passa por uma justa informação dos fatos objetivos, mas sempre dentro de um devido respeito à sensibilidade das pessoas, evitando linguagens e manchetes carregadas de dramas excessivos e contraproducentes. Creio que, de maneira geral, pouco se fala das milhares de pessoas que se recuperaram da Covid-19. É preciso valorizar as boas notícias. Do contrário, irá prevalecer aquela antiga máxima de que “só mediante notícia ruim é que se vende jornal”. Não deve ser assim.

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Voltando à questão envolvendo dom Gil, eu penso que o arcebispo não pretendeu e nem pretende ser infalível em suas interpretações, mesmo porque, atualmente, com a ampla liberdade de expressão, parece que está cada vez mais difícil, até para as autoridades, filtrar as informações para se chegar à verdade objetiva dos fatos. Como todos nós, o bispo é humano e pode até rever algumas de suas colocações. Outra coisa é acusar o bispo de semear fake news, como se dom Gil fosse um homem irresponsável. Certamente que o histórico positivo do trabalho de dom Gil em nossa cidade nos permite respeitá-lo, mesmo quando estamos diante de cenários complexos, cuja interpretação é, por vezes, difícil.

Esse espaço é para a livre circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões.
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