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Fraternidade humana

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“Pregue o Evangelho a todo tempo, se necessário, use palavras.” A frase é atribuída a São Francisco, embora não haja nenhum documento que ateste essa autoria. Entretanto isso não torna essa atribuição falsa, dado que ela revela a necessidade primeira de se viver os ensinamentos de Cristo e anunciá-lo com atitudes e testemunhos como ele assim o fez. Que o pontificado de Francisco segue os passos do jovem de Assis podemos atestar desde seu início, mas se ratifica a cada dia, também em suas palavras, sejam nas pregações, nos documentos ou mesmo em seus tweets.

No dia 4 de fevereiro, celebrou-se o Dia Internacional da Fraternidade Humana, conforme estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas e levando em conta também o encontro nessa data em 2019, em Abu Dhabi, quando Papa Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, assinaram o “Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum”. Esse, por sua vez, ratificado pela encíclica “Fratelli tutti”, em que alerta: “Se não conseguirmos recuperar a paixão compartilhada por uma comunidade de pertença e solidariedade, à qual saibamos destinar tempo, esforço e bens, desabará ruinosamente a ilusão global que nos engana”, e acentua “o princípio ‘salve-se quem puder’ traduzir-se-á rapidamente no lema ‘todos contra todos’, e isso será pior que uma pandemia”. Mas, como almejar “fraternidade humana”, num país onde religiosos e religiosas se veem na obrigação de protocolar um pedido de impeachment contra o presidente?

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“A irresponsabilidade se transformou em crime quando coloca em risco a vida das pessoas e quando participa e apoia manifestações que pregam o retorno a uma ditadura e do AI-5 em confronto direto com a Constituição Federal”, afirma nota escrita pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e assinada por Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Comissão Brasileira Justiça e Paz, Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), Câmara Episcopal da Igreja Anglicana do Brasil (IEAB), Aliança de Batistas do Brasil (ABB), além de diversas lideranças católicas e evangélicas. O pedido em questão concentra-se na denúncia dos crimes de responsabilidade referentes à área de saúde, ao manejo criminoso das políticas sanitárias durante a pandemia, ao não acesso à vacina e ao desprezo pela vida dos cidadãos e cidadãs brasileiras, usurpando-lhes o direito à saúde e infringindo, assim, diversos artigos da Constituição Federal.

Onde se encontra a “fraternidade humana”, quando o prefeito da maior cidade do país manda instalar pedras pontiagudas debaixo de um viaduto para que ali não se abrigue pessoas em situação de rua? “Isso não diminui o desafio que é acolher essa população nem reduz o número de pessoas nas ruas, mas é bem mais simples do que encarar os problemas sociais”, denunciou a arquiteta urbanista Paula Freire Santoro, professora da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do LabCidade.

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Como o Papa Francisco, há sinais por aqui de que ainda há esperança e boas atitudes. Em nossa cidade, os Vicentinos e várias outras instituições tratam de levar dignidade e apoio a essa população. Em São Paulo, o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Júlio Lancelotti, foi até o viaduto ver a obra, que chamou de “arquitetura higienista”, e voltou para retirar as “pedras da injustiça”, tendo sido saudado pelos internautas.
Pregue o Evangelho a todo tempo, se necessário… Use uma marreta!

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