Muitos são os personagens coadjuvantes que percorrem as páginas dos Evangelhos ao lado de Jesus de Nazaré. Por razões diversas, a maior popularidade de uns suplanta a história de outros, que passam despercebidas ou mesmo desconhecidas da grande maioria. Se não os identificamos pelo nome, muitas vezes ouvimos algo sobre a história que os envolve. Esse é o caso de Simão, o cirineu.
A passagem evangélica envolvendo o cirineu é um dos ensinamentos finais de Jesus sobre a cooperação fraternal entre os homens, em todos os instantes da vida terrena. Seguia Jesus esfolado e supliciado, carregando a infamante cruz. Em certa altura do caminho martirizante, o Mestre de Nazaré tombou ao chão sob o peso do madeiro. O soldado romano, um dos encarregados do violento cortejo, ordenou ao homem encostado à parede, observando a procissão de horror, que auxiliasse o condenado. Ouvindo as ordens do militar, o convocado, a princípio, recusou-se a atender, porém, diante da força da chibata erguida em sua direção, acatou a ordem e pôs-se em auxílio. Tomando a cruz às costas, arrastou-a em direção ao Gólgota no martírio derradeiro. Simão, o cirineu, é este personagem: o homem que auxiliou Cristo.
Se conhecido ou não, Simão nos legou uma belíssima história e uma lição não menos educativa, para aquele que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, deixando bem claro que nos Evangelhos não há uma palavra, uma linha ou um texto escrito por mero capricho literário. Tudo, absolutamente tudo que contém, é fonte de aprofundado ensino.
No momento culminante do Mestre de Nazaré, o homem que o ajudou não o fez de vontade própria, foi acuado e obrigado a fazê-lo pela força do chicote.
Ainda hoje, a maioria dos cristãos aceita as obrigações inerentes às suas crenças, porque é constrangida, realizando tarefas caritativas, como forma de limpar a consciência e mostrar-se como um benfeitor. De fato apenas replica o sentimento de Simão, cumprindo uma obrigação pelo temor avivado nos princípios da crença que abraça.
Esquecemo-nos do principal sentimento ensinado e exemplificado pelo Cristo, a fraternidade, fraternidade que faltou ao cirineu e a qual também nos esquecemos de aplicar. Consequentemente, colhemos rancor, ódio, racismo, violências de todas as ordens, neste momento tão delicado por qual passamos.
Cabe a nós, como espíritas cristãos que somos, enxertar a fraternidade em todas as nossas atitudes rotineiras, para que se faça real a vontade do Cristo, quando exortou: “Paz na Terra aos homens de boa vontade”.
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