Pela primeira vez, desde 1995, os setores populares que ousam ocupar o final do desfile cívico-militar do 7 de setembro não sairão de casa. Para evitar o alastramento da pandemia, o Grito dos Excluídos deste ano se realizará em forma virtual. A marcha que mostra a realidade de tantos brasileiros e brasileiras sem acesso a seus Direitos de Cidadania, neste ano tem por tema “A vida em primeiro lugar! Basta de Miséria Preconceito e Repressão. Queremos Trabalho, Terra, Teto e Participação”.
“Tem gente que não coloca a vida em primeiro lugar. É triste quando se coloca em primeiro lugar o lucro, a ganância. Nesse tempo de pandemia, de morte, a vida precisa retornar ao seu lugar. O Grito é esperança”, afirma Dom Mário Antônio da Silva, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, convocando toda Igreja a mobilizar-se neste Dia do Grito. Ao fazer eco a essa convocação, a Equipe de “Igreja em Marcha” quer lembrar que nosso lugar, como leigos e leigas, é no espaço público e não no conforto dos templos.
O tema do momento é, evidentemente, o protesto contra o Governo Federal, por sua omissão diante da pandemia – que já matou mais de 120.000 pessoas, deixando inúmeras outras com sequelas da infecção -, por seu incentivo à devastação da Amazônia e por sua conivência com o extermínio de Povos Indígenas em situação de isolamento. Mas o Grito vai além dos problemas do momento e coloca em pauta também questões sociais cuja solução requer um longo tempo: são as questões levantadas pela 6ª Semana Social Brasileira, encabeçada pelas Pastorais da CNBB em parceria com Movimentos e Entidades da sociedade civil.
Essa “Semana Social” já está acontecendo desde seu lançamento, em julho, na medida em que promove estudos e reflexões sobre a realidade de quem luta pelos Direitos fundamentais para uma vida digna: Terra, Teto e Trabalho – os três “Ts” de que falou o Papa Francisco em seu encontro com os Movimentos Sociais. Ela deve alongar-se até meados de 2022, promovendo diferentes tipos de eventos, sempre em forma de mutirão, isto é: eventos onde cada pessoa traz sua experiência, suas reflexões, seus saberes, suas aptidões artísticas, suas expressões religiosas, e ao terminar todas saem muito mais capacitadas do que estavam ao chegar, porque ali todas ensinam e todas aprendem.
Tanto o Grito dos Excluídos quanto a Semana Social são frutos de iniciativas da Igreja Católica, sempre em parceria com outras entidades da sociedade brasileira, de modo a expressarem uma presença eficaz da Igreja na sociedade, sem contudo dar-lhe um caráter confessional. Ao contrário, ambos primam por sua abertura a outras confissões ou tradições religiosas e também a grupos sem-religião. Por isso, são formas de evangelização que partem da ação em favor da Vida para só depois traduzirem-se em palavras que justifiquem essa opção pela Vida, especialmente a Vida dos pobres, excluídos e excluídas do banquete do mercado, onde só entra quem tem dinheiro.
Esse testemunho que coloca a Vida em primeiro lugar, e por isso exige Terra, Teto e Trabalho dignos para toda a população brasileira – e não apenas para quem já nasceu em famílias prósperas, brancas e saudáveis – é a Boa Notícia que nossa Igreja tem a dar neste 7 de Setembro tão triste e sombrio: a A Morte não terá a palavra final! A vida triunfará!