por Raphael Reis, Mestre em Educação
A minha hipótese, defendida em dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFJF, é que o Brasil não é um país de leitores, porque não formou hábitos da leitura.
Em nosso contexto histórico, alguns acontecimentos corroboram para isso, a saber: a censura à leitura foi uma constante em vários períodos de nossa História; a instalação de um mercado editorial foi tardia (somente em meados do século XIX); expansão e universalização da educação pública de idas e vindas; tradição da formação focada em livros didáticos; influência marcante da cultura audiovisual na vida do brasileiro a partir do século XX e a herança do analfabetismo.
A série de pesquisas “Retratos da Leitura”, que está em sua quarta edição (2015), traz resultados que nos chamam a atenção para refletirmos. Primeiro, é importante apontar que o critério para designar leitor é bem flexível – basta o entrevistado falar que leu nos últimos três meses um livro (inteiro ou em partes). Mesmo assim, praticamente metade da população brasileira é não leitora.
A média de livros lidos aumentou, totalizando 4,96 por habitante/ano, embora continue baixa comparada a outros países da América Latina e da Europa. A tendência dos leitores continua por leitura religiosa, infantojuvenil e de autoajuda. O conhecimento da literatura brasileira é modesto e o da leitura estrangeira é quase inexistente.
Esse quadro nada animador coloca sérios desafios para as políticas públicas culturais e educacionais. Talvez o “projeto nacional” seja este mesmo: manter a maioria da população alijada de bens simbólicos importantes.
Em Juiz de Fora, o contexto não é muito diferente, conquanto aqui exista uma pujança de escritores e de formação superior. Particularmente, espantam-me nossas lideranças políticas.
Na primeira gestão do atual prefeito, houve um movimento de fechamento das bibliotecas escolares, a falta de investimentos em um projeto cultural, educacional e turístico para a Biblioteca Municipal Murilo Mendes, a ineficácia de se debater o Plano Municipal do Leitor, Livro e Leitura e a justificava brochante na época, do superintendente da Funalfa, de que não havia R$ 10 mil para a realização da Lei que institui a Semana do Leitor, Livro e Leitura… Isso revela muito de uma cidade, sua população e seu governo.
Então, há uma saída? Diria que há alguns caminhos: um pacto nacional e dos entes federados em prol da valorização e de investimentos em políticas públicas de incentivo à leitura; formação permanente que envolva pais, professores e bibliotecários para que estes sejam leitores e que possam ser também mediadores da leitura, e realização de bienais e semanas do livro.