Christinny Garibaldi
Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFJF
Não é de hoje que a educação superior pública no Brasil caminha em corda bamba. E, junto dela, os maiores projetos de pesquisa do país. As dificuldades se acumulam. O desmonte e o sucateamento estão cada vez mais evidentes: crises drásticas em universidades renomadas como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, redução do número de bolsas oferecidas para pós-graduação e congelamento de verbas para educação com a PEC do teto de gastos.
Adiciona-se aos problemas a mais recente possibilidade de cortes de bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir de setembro deste ano. Do R$ 1,3 bilhão destinado ao órgão, apenas 56% do valor foi liberado pelo Governo federal. As bolsas de agosto estão garantidas. As de setembro em diante ainda dependem de tentativas e diálogos.
O CNPq começou a fazer história no Brasil em 1951, quando foi criado com a mesma sigla, mas com o nome de Conselho Nacional de Pesquisas. Para o fundador do órgão, o almirante Álvaro Alberto, tratava-se da “Lei Áurea da pesquisa no Brasil”. Desde então, o conselho nunca sofreu descontinuidade em suas principais atividades, mesmo nos momentos mais conturbados da história nacional e mundial. Manteve-se íntegro na concessão de bolsas durante o mandato de 21 presidentes brasileiros. Porém o futuro é incerto nas mãos do Governo Temer.
O congelamento de recursos para pesquisa no Brasil foi previsto no ano passado, quando o orçamento já era 50% menor que em 2010. Além do pouco dinheiro, desde 2016 a pasta de ciência divide recursos com uma área mais apelativa no cenário político: a comunicação. Competição injusta. A responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações envolve todos os serviços de telecomunicação, radiodifusão e possui ligação direta com os grandes conglomerados de mídia do país. Consequência: pouca atenção à produção científica.
A ordem para o cenário de crise e escândalos políticos no Brasil é a redução de investimentos em educação e saúde, essenciais para o desenvolvimento de uma nação. Países desenvolvidos, quando enfrentam períodos de recessão, optam pelo que de melhor o ser humano pode desenvolver: o conhecimento. E investem mais em ciência e pesquisa para superarem os momentos conturbados. Diante das circunstâncias, cabe retomar uma antiga dúvida popular: por que o Brasil não vai para a frente?