A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) teve como tema de sua campanha, este ano, que se encerrou no Domingo de Páscoa, “Fraternidade: biomas e defesa da vida”. Através de textos básicos, cânticos, pregações do corpo eclesiástico, etc., a tarefa da Igreja Católica é dar ênfase à diversidade de cada bioma, ao mesmo tempo em que propõe criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que vivem em cada um deles, especialmente à luz do Evangelho.
Biomas são conjuntos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em uma mesma região e que, historicamente, foram influenciados pelos mesmos processos de formação. Os mais de 8,5 milhões de km² de nosso país, submetidos a uma mistura e interação de condições climáticas, de solos, de topografias, de vegetações, de fauna e de recursos hídricos, fazem com que, no espaço geográfico brasileiro, tenhamos o desenvolvimento de biomas diversificados, dos mais ricos de todo o mundo. A Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa nos proporcionam o maior superávit ambiental do mundo, segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF. Neles vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira.
Esta campanha da CNBB, num trabalho de conscientização e de sensibilização, é de suma importância, porque, ao longo do processo histórico brasileiro, desde os colonizadores com a extração do pau-brasil, no início usando a mão de obra escrava indígena e mais tarde negros africanos, o que restou da beleza natural descrita por Pero Vaz de Caminha? Devido à combinação de vários fatores, ao longo dos séculos – tais como a ganância do capitalismo e de empresários inescrupulosos que buscam a riqueza a qualquer preço, como ocorrido na “Tragédia de Mariana”; a omissão e até o apoio de governantes corruptos; o descuido da sociedade para a questão, etc. -, estes contribuíram e ainda contribuem para que a riqueza natural destes biomas continue sendo ameaçada.
Há de se destacar, ainda, o crescimento de todos os tipos de poluição nas cidades; a destruição dos rios – veja como se encontra hoje o nosso Paraibuna -; o uso generalizado e indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos; a construção de mega-hidrelétricas; toda a cadeia produtiva industrial, desde a exploração dos recursos naturais; a exploração da rede de comércio e serviços; a acidificação dos solos e das águas; a desertificação; a expansão da agricultura e da pecuária para as regiões Norte e Centro-Oeste; o desmatamento desenfreado; a ampliação da malha de rodovias; os incêndios e queimadas – tudo isso, conjuntamente, tem provocado um empobrecimento da exuberância existente em nossos biomas.
Como exemplo deste descalabro com os nossos biomas, a Mata Atlântica, formada por um conjunto de formações florestais e ecossistemas associados, estendia-se originalmente por aproximadamente 1.300.000km², em 17 estados do território brasileiro, e, hoje, tem sua cobertura primitiva com apenas 7%. Mesmo reduzida e muito fragmentada, estima-se que na Mata Atlântica existam ainda cerca de 20.000 espécies vegetais, bem mais do que em alguns continentes, como o europeu, com 12.500!
Se quisermos realmente “defender a vida”, como pede a Campanha da Fraternidade, temos que nos conscientizar de que os nossos biomas são “a própria vida”. A falta de água em reservatórios pelo Brasil afora, e consequente racionamento do líquido da vida, é um alerta dos impactos negativos que estamos provocando em nossos biomas!
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