Era dezembro de 2009, a sessão estava completamente lotada. Adultos e crianças acomodados até nas escadas do cinema. Juiz de Fora ainda não possuía salas com projeção 3D, mas mesmo assim estava evidente o quão revolucionário era aquele filme. Na tela, “Avatar”, do diretor James Cameron. Impossível desgrudar os olhos da tela, todos estavam imersos e fascinados com aquele novo universo. Quando subiram os créditos, gritos e aplausos espontâneos e contagiantes (bem antes de virar moda com os filmes de super-heróis). Guardo essa lembrança com muito carinho na memória, um exemplo da pura e simples magia do cinema, que, através de imagens e sons, nos transporta para uma outra realidade onde tudo é possível.
“Avatar” retorna à telona por tempo limitado em 2022, preparando o terreno para a sua continuação em dezembro.
O ano é 2154. Nós, humanos, munidos de um enorme poderio tecnológico, exploramos um raro minério em Pandora (uma lua fora do sistema solar). Do outro lado, os Na’Vi, povo nativo que, apesar da pouca tecnologia, desenvolveu uma sofisticada cultura baseada na conexão com a natureza e com a vida.
Como em toda boa ficção científica, a tecnologia e o futuro são apenas alegorias que nos colocam de frente a um espelho de dilemas sociais e antropológicos.
Ainda que se passem no futuro ou no passado, filmes são um retrato de sua própria época, de valores e de conflitos contemporâneos à sua criação. Com o passar do tempo, a partir da visão de uma nova geração, essas obras podem ser resignificadas.
Treze anos separam o lançamento de “Avatar” do nosso Brasil de 2022. Que releitura podemos fazer desse filme hoje? James Cameron é um talentoso contador de histórias, mas dificilmente conseguiria prever que o seu futuro distante chegaria tão cedo. Apesar de ainda deter o recorde de maior bilheteria de todos os tempos, a mensagem de “Avatar” continua a ser ignorada.
É difícil não relacionar Pandora com a Amazônia, é difícil não relacionar o desrespeito aos Na’Vi com as mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira.
Uma das cenas em “Avatar” que sempre me leva às lágrimas é a destruição da árvore sagrada, bombardeada sob o olhar incrédulo dos nativos. No Brasil de hoje, essa cena ganha sombrias interpretações. Mas assim como a união dos Na’Vi enquanto povo, a nossa união pela democracia colocará um fim em todo o mal e marcará um novo começo. Eu vejo você (na urna).