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Carteiradas em ação

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Estamos ainda nos tempos de Brasil Império ou nosso amado país ainda está vivendo os tempos do Ato Institucional 5, o AI-5, em que qualquer um que ousasse desobedecer a normas estabelecidas, atos ou ordens superiores poderia imediatamente ser conduzido aos quartéis do Exército para responder aos atos julgados inadequados.

São essas coisas que levam um desembargador paulista ainda viver a síndrome do “você sabe com quem está falando?”. Após chamar um guarda municipal de “analfabeto” e jogar na cara dele sua carteira e rasgar e jogar no chão a multa, depois de humilhar a pessoa que cumpriu seu dever de cobrar de uma pessoa desmascarada, por ela ter descumprido decreto que obrigava todos a se protegerem e protegerem os outros a seu redor do pandemônio Covid-19, podemos dizer que esse desembargador tem sorte por ainda vivermos em um país com democracia. Se ele ainda vivesse no tempo do AI-5, seria fatalmente preso e conduzido a um quartel do Exército por descumprimento ao que determinava o governo. Ele responderia a seus atos se ainda vivesse naquela época.

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O elitismo é cruel nos tempos de pandemia, quando percebemos que esse mal que invade o mundo é ainda mais devastador entre os menos favorecidos. O IBGE mostra que mais de 50% dos infectados não têm nenhuma instrução ou, no máximo, o ensino médio incompleto, e que cada sete entre dez vítimas do coronavírus são pretos, pardos ou pobres. São tristes essas estatísticas, mas são verdadeiras. A dificuldade, como no caso do desembargador, está em conter os irresponsáveis que se recusam a cumprir as regras, quando apenas acreditam que a proteção de Deus é capaz de evitar o contágio, que se acham ungidos, por isso dispensados em seguir as regras dos homens. Mesmo seguindo os protocolos sanitários determinados, estamos ainda muito longe de iniciar a chamada curva descendente, para a qual, infelizmente, estamos inteiramente despreparados.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já assumiu as investigações no caso do desembargador paulista. Agora é hora de o Brasil se reinventar. Parte dos brasileiros ainda não tem freios que os obrigue a seguir medidas sanitárias e o respeito a normas traçadas a partir de parâmetros científicos que buscam, pelo menos, controlar a disseminação do vírus. Estamos sendo informados pela imprensa em geral e mostramos para a população rebelde, que não está usando máscaras e ainda se comportando como se nada de anormal estivesse acontecendo, que nem tudo vai bem entre nós.

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Quando vemos um cidadão agredir um motorista de ônibus que está exigindo dos passageiros o uso de máscaras, um magistrado paulista humilhar um agente da guarda municipal, rasgar e atirar no chão a multa que recebeu, ver um presidente da República sem máscara se transformar em um garoto-propaganda de um medicamento comprovadamente ineficaz, vemos claramente que estamos ainda em um país sem rumos.

Mudança de comportamento da população é coisa de muito longo prazo, e vai demorar ainda muito para acontecer. Mesmo que o Brasil volte a ter um novo AI-5, o que não deverá ocorrer, ainda veríamos uma boa parte da população sendo vítima de carteiradas ou fugindo de suas obrigações.

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