A COP 26, que este ano ocorre na cidade de Glasgow, na Escócia, tem como pauta a avaliação de temas globais, mas é ledo engano considerar que tais demandas estão distantes de nós. Ao contrário, a questão ambiental é de interesse coletivo e requer não só de governos, mas também dos demais setores, uma atenção especial. O meio ambiente há muito tempo deixou de ser uma agenda de ambientalistas, muitas vezes incompreendidos, para se tornar matéria de consumo coletivo, principalmente por suas implicações.
A natureza tem dado recados frequentes, e não há como ignorar essas sinalizações. As mutações no clima são visíveis, bastando acompanhar a variação de chuvas e secas que estão cada vez mais agudas. O mês de outubro, que ora termina, foi um dos mais chuvosos dos últimos anos. Por outro lado, a seca em outras regiões também bate recordes, com o comprometimento de mananciais de abastecimento de água e de geração de energia. No início do mês, o Governo chegou a adotar a faixa mais crítica ante a iminência de um racionamento.
O Brasil tem papel assertivo nesse debate por ter em suas fronteiras a maior parte da Amazônia, um patrimônio da humanidade, que, dia após dia, passa por desafios da depredação. A despeito de o Governo ter instalado um grupo de acompanhamento, sob a liderança do vice-presidente Hamilton Mourão, o nível de desmatamento passou de todos os limites. No Pantanal, outro santuário ambiental, as secas mudaram a paisagem, com sérios danos ao ecossistema.
A discussão na Escócia deve, porém, avaliar o envolvimento de todos os lados. Enquanto o Brasil é cobrado por uma eventual leniência, o chamado primeiro mundo também descumpre regras básicas, a começar pela emissão de gases. Os EUA e a China são os responsáveis pelo principal pacote de poluição. A Europa também cobra medidas, mas pouco investe em ações nas regiões mais críticas, levando em conta apenas os seus interesses.
A cúpula, pois, ganha significado por colocar todos à mesma mesa, a fim de garantir visões próximas e antagônicas num debate de interesse comum. Entretanto é necessário ir além da retórica. O Tratado de Kioto, que foi um dos maiores avanços na questão ambiental, passou por inflexões, sobretudo quando os Estados Unidos, na gestão Donald Trump, dele se afastaram. As políticas internas têm forte repercussão na agenda global.
Quando se diz que a discussão ambiental não se esgota nos fóruns internacionais, a referência se volta para o ambiente local. Juiz de Fora e seu entorno precisam acelerar o debate envolvendo a represa de Chapéu D’Uvas, o maior manancial hidrográfico da região e maior fonte de abastecimento de Juiz de Fora. Como está fora dos limites da cidade, os municípios de Antônio Carlos, Santos Dumont e Ewbank da Câmara precisam ser chamados à mesa para formulação de um consórcio capaz de garantir-lhes o direito de ter o manancial em seu território, mas também a responsabilidade pelo seu uso. Hoje, como destaca proposta na Câmara Municipal de Juiz de Fora, o entorno da represa está em risco ante a flexibilização do processo de ocupação de suas margens, que pode comprometer o abastecimento no futuro. O meio ambiente, portanto, também é uma pauta perto de nós.