Em 2013, quando milhões de pessoas foram às ruas por uma causa difusa, os jovens de então, agora nove anos mais velhos, estavam na linha de frente na defesa de questões de toda ordem. A inquietação coletiva reuniu uma série de demandas, inclusive políticas, e muita coisa mudou. Tempos depois, o Congresso Nacional tirou a economista Dilma Rousseff da Presidência – a primeira mulher a dirigir o país – e, em 2018, a direita chegou ao poder por meio do então deputado Jair Bolsonaro, ora em campanha pela reeleição.
Tais fatos podem não ter ligação direta com a ida dos jovens às ruas, mas a mobilização criou um novo modelo de ingerência nas ações do Parlamento. O distanciamento coletivo foi reduzido, alavancado, sobretudo, pelas redes sociais, e os jovens, aí sim, tiveram papel assertivo nesse novo modelo de comunicação.
Carecendo ainda de explicação pelas ciências sociais, a nova geração entre 16 e 18 anos não manifesta o mesmo interesse de seus antecessores. O número de habilitados a votar no pleito de outubro está aquém das expectativas, o que levou o Tribunal Superior Eleitoral a formatar diversas campanhas de mobilização. A que deu melhor resultado teve a participação da cantora Anitta, o fenômeno brasileiro que chegou ao topo da plataforma Spotify. Com mais de 15 milhões de seguidores apenas no Twitter, ela provocou a nova geração.
“Então agora é isso, hein… me pediu foto quando me encontrou em algum lugar? Se for maior de 16 eu só tiro a foto se tiver foto do título de eleitor”, advertiu. De acordo com o servidor da Justiça Eleitoral Eduardo Braga, em matéria na edição de domingo da Tribuna, após a publicação, o número de cadastro de adolescentes na cidade saltou de uma média de 50 por dia para 260 na semana passada.
O Efeito Anitta é uma demonstração do bom uso das redes sociais, mas a conscientização deve ser resultado da própria necessidade de influir no futuro do país. Os jovens e os demais que consideram o ato de votar um passo atrás precisam ser convencidos da importância de ir às urnas. A eleição é um momento único em que o eleitor se manifesta ao dar uma procuração ao seu candidato para que, em seu nome, ele defenda as propostas em que acredita. É, também, o momento de acerto de contas com aqueles que não cumpriram o que foi apresentado nas campanhas eleitorais.
A omissão é o pior dos mundos, pois leva a retrocessos e à implementação de causas que ficam distantes da discussão democrática. O cidadão que reclama mas não vota perde o direito de questionar, pois passou distante do momento de fazer a mudança que ele próprio defende.
Os jovens, sobretudo, precisam considerar que ir às urnas é discutir o próprio futuro. Daí, se omitir nas eleições é colocar em risco o dia de amanhã.