Na coletiva de ontem, quando apresentou os números mais recentes da Covid-19, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, chamou a atenção para um detalhe recorrente quando se trata de percentuais. É preciso cuidado em estabelecê-los para não causar falsa impressão.
Alguns estados, com menor número populacional e expressivo número de mortes, como Pernambuco, estão com dados elevados, maiores, proporcionalmente, do que São Paulo, local em que se concentra o maior número de letalidade. Se houvesse um estado com um infectado e com resultado fatal, a letalidade, em proporções, seria de 100%. É recomendável, especialmente no jornalismo, ficar atento a pequenos e grandes números.
Isto posto, o fundamental é tratar da pandemia em si, que no Brasil ainda não alcançou o pico. O próprio Ministério da Saúde, em suas projeções, tem indicado que a onda mais crítica deve ocorrer na segunda quinzena de abril, para, só a partir daí, começar a se estabilizar. Mas são suposições com base em cenários de outros países. Mas é necessário, porém, tratar de danos e causas. Em algumas regiões, como a Itália, especialmente, os números são mais expressivos – e proporcionalmente os mais altos do mundo – em decorrência da leniência dos próprios dirigentes, que trataram o coronavírus como uma doença qualquer, sem dar conta de sua extensão. O próprio prefeito de Milão, onde se situa o maior número de casos, pediu desculpas, pois não fez a avaliação correta.
Em momentos como este, todas as instâncias devem estar trabalhando para encontrar alternativas, tanto na saúde quanto na economia, sem que isso afete a segurança da população. A contaminação vai chegar a zonas críticas, como as comunidades, nas quais as condições de abrigo são precárias. Para isso, é necessária uma logística própria, que não se esgota no Ministério da Saúde. O próprio ministro destacou, porém, que em tais regiões as lideranças comunitárias estão com forte atuação, pois conhecem a realidade de seu meio.
Testar o maior número de pessoas é a saída para obtenção de dados consistentes, mas, como disse Mandetta, há áreas especiais, como a dos profissionais da saúde, que precisam ser avaliados sistematicamente por estarem na linha de combate. Outros setores mais ativos terão o mesmo atendimento, embora a meta, dependendo do volume de testes a ser adquirido, seja alcançar o maior número de pessoas. Há, porém, um longo caminho pela frente.