A janela partidária estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral, prevista para o período de março e abril de 2022, vai provocar uma dança das cadeiras anabolizada pela decisão do presidente Jair Bolsonaro de se filiar ao PL. De acordo com o jornal “O Globo”, pelo menos 40 deputados federais deverão migrar para outras legendas motivados pela adesão do chefe do Governo e interessados em suas consequências. Em 2018, puxado pelo voto no presidente, o PSL, até então entre as menores siglas, tornou-se a segunda maior legenda do Congresso, atrás apenas do PT. Essa aposta, agora, é do PL, que abriga o presidente da República.
Mudar de partido é um processo natural do jogo político, pois os candidatos se movem de acordo com suas expectativas. O Fundo Eleitoral é uma motivação primária, uma vez que, sem o financiamento privado de campanha, os recursos de campanha saem diretamente das legendas, e seu tamanho no Congresso é definidor do tamanho dos repasses.
Sem as coligações, que permitiam alianças de curto prazo, voltadas apenas para a campanha, os partidos de menor porte têm, agora, que recorrer à brecha estabelecida pela legislação, com a criação das federações. Sua diferença está nos prazos. Se antes os acordos eram pontuais, agora a aliança tem prazo mínimo de quatro anos, isto é, irão envolver, inclusive, as eleições municipais de 2024.
E político faz conta. O que é bom hoje pode não ser favorável no pleito municipal, daí a avaliação de curto e médio prazo que entra na agenda. O PSB, depois de conversas iniciais, está com um pé atrás numa possível federação com o Partido dos Trabalhadores. O impasse tem como ponto central a situação de São Paulo. Os socialistas defendem a candidatura do ex-governador Márcio França, enquanto os petistas não abrem mão em indicar o ex-ministro Fernando Haddad. Como acordo bom é aquele que é bom para os dois lados, a negociação emperrou.
Até no cenário municipal há sinais de mudança. Com a formatação da União Brasil, resultado da fusão do PSL com o DEM, nem todos os vereadores têm a intenção de se filiar ao novo partido, preferindo buscar novos caminhos pensando não apenas em 2024, mas também no pleito do ano que vem. Pelo menos sete vereadores devem disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal, e tal operação só será consolidada se tiverem espaço dentro de seus partidos.
Durante o bipartidarismo – Arena e MDB -, as possibilidades de mudança eram raras, sobretudo pela imaginada unidade ideológica. A partir de 1979, quando foi aberta a possibilidade de novas legendas, chegando aos tempos de hoje, a ideologia ficou em segundo plano, e as mudanças tornaram-se um processo estratégico voltado para as urnas