Uma das formas mais eficazes para facilitar a definição de voto do eleitor indeciso é o debate entre os candidatos. Na noite de domingo, os postulantes à Presidência da República tiveram o primeiro embate, na TV Bandeirantes – num pool que tinha também o portal UOL, o jornal Folha de S. Paulo e a TV Cultura -, abrindo uma série que deve se desdobrar por outras emissoras. Foram quase quatro horas em que todos tiveram a oportunidade de apresentar suas propostas e, como é do jogo, de desconstruir seus principais adversários. Líderes nas pesquisas de intenção de voto, os candidatos Lula e Bolsonaro, como era de se esperar, foram os mais visados. E a estratégia parece ter dado certo, pois ambos tiveram desempenho abaixo das expectativas, como atestaram as pesquisas realizadas após o evento, entre elas, a do Datafolha.
Sem a pressão dos líderes, os demais candidatos tiveram a oportunidade de se apresentar com maior assertividade, como foi o caso da senadora Simone Tebet, que, de acordo com as mesmas pesquisas, teve o mesmo desempenho. O candidato Ciro Gomes enfatizou a política educacional, com destaque para seu estado, o Ceará, e fez o que mais gosta: bateu duro em Lula e em Bolsonaro.
Os efeitos reais do debate devem ser aferidos ainda esta semana, quando os pesquisadores voltarão às ruas. Os dados do IPEC – antigo Ibope -, na agenda para serem divulgados na noite dessa segunda-feira, certamente, devem refletir a série de entrevistas dos quatro candidatos que foram ouvidos pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Sem o contraditório dos adversários, embora pressionados pelos jornalistas, quase todos tiveram melhor performance nesse evento do que no debate.
Faltando basicamente um mês para as eleições, a campanha entra na sua fase mais aguda. A terceira via tem chances improváveis de ser uma realidade ante a demora de seus próprios personagens a entrarem em campo. Gastou-se muito tempo buscando o consenso que não veio, dando margem para os líderes escaparem na corrida eleitoral. A despeito disso, porém, criou-se um cenário diferente de outros anos, pois há a perspectiva de despolarização nos próximos pleitos. Simone Tebet é um quadro que, certamente, terá mais visibilidade, assim como tantos outros que deverão entrar em cena daqui por diante. O embate do nós contra eles, embora bastante aguçado, já registra falha de material ante os danos colaterais produzidos nos últimos anos.
O país, pela própria sinalização das ruas, tem demandas mais importantes do que os enfrentamentos quase de viés pessoal, que ainda permeiam a discussão eleitoral. A inflação é uma realidade, e o mundo passa por uma grande inflexão que precisa ser acompanhada com atenção. As instâncias políticas precisam estar atentas aos novos tempos, pois é pela política que são feitas as necessárias transformações.