As chuvas de dezembro, que têm causado mortes em várias partes do país, especialmente na Bahia, são um recado direto da natureza às ações e às inações humanas. As discussões em torno do meio ambiente, a despeito de tantas manifestações, continuam relegadas ao segundo plano, com governos nacionais deixando para depois a tomada de atitudes. Os tratados são descumpridos, e tudo segue como se nada estivesse acontecendo. O que foi discutido em Kioto foi denunciado por governantes, como os dos EUA, que simplesmente dele se afastaram. Há cerca de um mês, em Glasgow, na Escócia, novas cartas de intenções foram firmadas, e o Brasil, como um relutante signatário, fez promessas de difícil execução, embora necessárias.
A questão ambiental é o guarda-chuva de todas as demandas, mas medidas em outras instâncias precisam ser tomadas ante a mudança climática que cada vez mais se acentua. As cidades, especialmente as metrópoles, continuam com políticas públicas precárias e, mesmo diante da sazonalidade das chuvas, ainda são surpreendidas pela falta de providências. O noticiário tem sido pródigo em mostrar situações que, em princípio, poderiam ter sido antecipadas. Boa parte das prefeituras tem mapeadas as áreas críticas, mas chega o verão e lá estão elas, de novo, apresentando os mesmos problemas, especialmente inundações.
Algumas demandas, é fato, dependem de recursos dos estados e da União para serem resolvidas, mas há, também, questões pontuais que podem ser superadas com a discussão coletiva. Neste ano, a Câmara Municipal de Juiz de Fora fez mais de uma audiência pública para tratar exclusivamente das consequências das chuvas. O levantamento dos problemas formatou um vasto material que agora precisa de verbas para ser executado. A Prefeitura já tem projetos para drenar várias regiões consideradas de risco ante a permanente situação de estarem ora abaixo do nível do rio, ora em bacias que precisam de ações diretas.
Como já foi apontado, em mais de uma vez, neste mesmo espaço, a população também tem papel assertivo nas discussões não só quando aponta os problemas, mas também no seu próprio papel enquanto comunidade. A ocupação de encostas e de áreas de risco é um dos dados mais críticos enfrentados pelas administrações, assim como o descarte irregular de lixo. Em Juiz de Fora, não se pode queixar do recolhimento, que alcança praticamente todos os bairros.
A situação dos córregos também é um dado relevante. O de Santa Luzia, embora tenha sido recentemente limpo, é emblemático, por carecer de estudos e projetos para solução do velho problema de inundações. Em princípio, ele seria totalmente coberto – como o Córrego Independência – para que as avenidas Ibitiguaia e Santa Luzia, como é a Avenida Presidente Itamar Franco, se tornassem um corredor de tráfego, mas as políticas ambientais mudaram, e cobrir totalmente os afluentes tornou-se um problema. A obra, pois, ficou no meio do caminho. É preciso encontrar uma solução, mesmo que de longo prazo, por conta da ação recorrente das chuvas. Tal cenário se repete em outras regiões da cidade, e tanto a Câmara, por meio de suas audiências públicas, quanto a Prefeitura, pelos mapeamentos que dispõe, conhecem muito bem.