Quando a indústria automobilística começou a se instalar no Brasil, o Governo tomou a decisão de dar ênfase ao transporte rodoviário em detrimento dos trens. O entendimento na ocasião era de que os custos eram menores e seria criada uma motivação para a abertura de rodovias, seguindo o lema de Washington Luiz de que governar é abrir estradas. Como consequência, as ferrovias foram desmontadas e as estações, em boa parte, se transformaram em museus ou centros de cultura. As locomotivas se tornaram peças de museu.
O país não é o único a ter esse modelo, mas as principais economias do mundo não colocam todos os ovos numa só cesta. Nos Estados Unidos, as estradas são prioridade, mas o número de trens é expressivo. Na China, o transporte por vias pluviais é prioridade, embora o novo modelo econômico também venha dando ênfase às estradas. A que mais se assemelha, em termos proporcionais, ao Brasil é a Alemanha, mas a comparação não se sustenta em função do território. Aqui as dimensões são continentais. Por isso, essa conta não fecha.
A dependência que ora deixa o país paralisado poderia ter sido outra se não houvesse a mudança de foco. O transporte ferroviário, inclusive de passageiros, é uma marca europeia, com as principais capitais ligadas por trens de alta velocidade. O mesmo vale para o Japão. No Brasil, quando se falou na construção de uma linha desse porte ligando Rio e São Paulo, que desoneraria bastante a ponte aérea, o projeto emperrou por conta do custo estratosférico apresentado pelas empresas interessadas na licitação.
Reverter essa situação é pouco provável, mas o impasse que ora paralisa o país deve servir de matriz para uma longa discussão no próximo Governo – o atual não tem condições políticas para isso – em torno do modelo adotado. As estradas são ruins, com exceção de algumas poucas privatizadas e os custos de transporte, a começar pelo preço do combustível, acima da realidade, deixando a conta final para o consumidor.