O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, disse num evento público que, se pudesse escolher seu adversário de segundo turno, optaria pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) por ver nele um expoente do extremismo num momento em que o país começa a rejeitar os setores radicais. Ele próprio, acima do viés partidário, tem a pretensão de criar um projeto chamado movimento Centro Democrático, que seria a alternativa entre o enfrentamento de direita e de esquerda que se acentuou nos últimos anos. A coordenação está sob a responsabilidade do secretário-geral tucano, deputado Marcus Pestana, e do senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
O jogo é válido, mas o que o candidato tucano aponta é o velho e surrado processo de escolhas, que ocorre também fora da instância política. No esporte, há sempre um preferido a ser enfrentado. Na política, não tem sido diferente. Em Juiz de Fora, a opção preferencial dos candidatos era o radialista Alberto Bejani, por conta da rejeição que tinha nas campanhas eleitorais. Esse ciclo acabou no dia em que, em segundo turno, acabou vencendo o tucano Custódio Mattos. São muitas as explicações, algumas delas do próprio tucano, que informalmente admite que poderia ter ido mais às ruas, mas o que ficou claro é que esse tipo de articulação nem sempre dá certo.
No plano nacional, enfrentar Lula também era o caminho escolhido após ele ter sido derrotado, em 1989, por Fernando Collor e, por outras duas vezes, pelo tucano Fernando Henrique Cardoso. Esse processo também foi para o ralo quando os tucanos José Serra e o próprio Alckmin foram vencidos pelo petista.
Diz o folclore político que Vicente Feola, técnico da Seleção Brasileira que venceria a Copa do Mundo de 1958, dava instruções aos seus jogadores quando teria sido interpelado por Mané Garrincha, o gênio das pernas tortas, se já tinha combinado com os russos a tática que ele apresentava. Garrincha, sem estratégia, mas com talento de sobra, acabou com o jogo.
No caso dos políticos, os russos são os eleitores. Os candidatos, vira e mexe, escolhem os adversários, mas se esquecem de combinar com as ruas. E os resultados têm apontado que, sem o eleitor, não adiantam táticas ou técnicas, sobretudo num tempo de redes sociais em que todos, ao mesmo tempo, estão sob permanente observação.