Ao participar de uma live com representantes da UFJF, quando da assinatura de acordo para financiar a produção de vacinas, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, voltou a exercer o seu estilo descolado de fazer política, não medindo palavras para apresentar suas posições. No seu entendimento, só quem for “débil mental” está pensando em eleições em meio a uma pandemia que já matou mais de 450 mil pessoas. Colocado na lista de possíveis candidatos ao Governo de Minas – o que não o afasta do rol dos citados para a Presidência -, ele destaca que só com realizações e trabalho será possível avançar no processo de combate à doença.
Kalil questiona os políticos, mas nada o afasta de tal meio, e seu discurso dá margem para interpretação de também ter um viés político, pois foi com esse estilo que conseguiu 64% da preferência dos eleitores da capital. Ele tem razão em parte ao advertir não ser esse momento, mas sabe que o modelo brasileiro, ao permitir a reeleição, deu margem ao processo de se pensar na reeleição um dia após a posse. O primeiro mandato é praticamente voltado para o segundo, embora nada assegure que esse seja melhor do que o primeiro.
Em recente entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que, se fosse hoje, ele teria sido contra a reeleição, apesar de ter sido o patrocinador para a renovação do mandato. Eleito com a força do Real, usou tal instrumento e a promessa de novas mudanças para garantir mais quatro anos. Como já era de se esperar, a performance não foi a mesma.
Pensar na reeleição, no entanto, não fere princípios éticos, pois é do jogo e definido em lei, mas é necessário repensar o modelo por conta de sua ineficácia e das consequências que traz para a vida política. Num regime de coalizão, no qual há mútua dependência entre os poderes Executivo e Legislativo, o balcão de negócios ganha ênfase, numa troca de favores que nem sempre ocorre sob o olhar republicano. Os últimos escândalos da República tiveram estes acordos como matriz: o Executivo, com seu poder de agenda, pedindo votos para aprovar suas matérias; e os partidos, com seu poder de articulação, barganhando cargos no poder ou emendas para agradar seus redutos.
Faltando mais de um ano para as eleições, o cenário já tem nítido viés eleitoral tanto nas instâncias de governo quanto fora delas. Governistas e oposição já puseram o bloco na rua a despeito da pandemia e vão continuar jogando suas fichas até o derradeiro dia das eleições.