Em debate nessa terça-feira na Rádio CBN Juiz de Fora, o secretário Municipal de Direitos Humanos, Gabriel dos Santos Rocha, destacou – da mesma forma que os demais convidados: Viviane Souza, da UFJF, e Daniel Salomão, da Sopa dos Pobres – a importância de se levantar o perfil da população em situação de rua, pois só a partir daí será possível a implementação de políticas públicas de longo prazo. Mas também houve consenso sobre a impossibilidade imediata de tal pesquisa ante o contingenciamento de recursos federais. Os cortes, sobretudo nas universidades, adiaram vários projetos, não havendo, sequer, data para a retomada dos investimentos.
O levantamento do perfil é importante por fazer parte de qualquer estratégia de ação envolvendo a população. É necessário conhecer quem são esses moradores, suas origens e sua motivação de ficar ao relento. Muitos deles, aliás, têm moradia, mas preferem ficar nas ruas pelo livre-arbítrio capitulado em lei. Isso não deve afastá-los porém, dos projetos de atendimento. O último levantamento com tal fim ocorreu em 2016, tempo suficiente para uma completa mudança de cenário, sobretudo após a pandemia do coronavírus.
De fato, investimentos sem uma base científica tendem a ficar mais caros e menos eficientes. O que pode e deve ser feito é a execução de projetos objetivos e imediatos, mas, quando se falam em ações de médio e longo prazo, a pesquisa é necessária, porque o perfil muda não só por conta do tempo, mas também de cidade em cidade. Há um expressivo contingente que só chegou às ruas após a crise econômica agravada pela pandemia. A forma de acolhimento é distinta até mesmo diante da visão política dos governos em todas as instâncias.
O ponto comum é não haver espaço para a omissão. Os moradores em situação de rua são uma realidade que se espalhou pelo mundo – inclusive na Europa, após o ciclo de migração -, exigindo a implementação de medidas para proteger não apenas esses despossuídos, mas a população em geral. Em recente matéria, a Tribuna apontou contratempos vividos por residentes da área central, sistematicamente importunados por indigentes. Ademais, a imagem de pessoas ao relento é perturbadora, agravando-se nesse ciclo de queda de temperatura que já começa no outono.
Entretanto a população em situação de rua é uma das faces do impasse social do país. De acordo com dados da própria Secretaria de Direitos Humanos, em Juiz de Fora, pelo menos 15 mil pessoas sobrevivem com rendimentos que vão de zero a R$ 89, o que as coloca no quadro de extrema pobreza. O auxílio emergencial beneficiou cerca de 140 mil pessoas na cidade, sendo que 36% delas o tinham como única fonte de renda. Sem ele, ou com a remuneração de apenas R$ 150, o quadro tende a se agravar.