Duas boas notícias que deveriam enriquecer o noticiário da última sexta-feira, em contraste com os números da Covid-19, acabaram se tornando um enfrentamento político sem qualquer propósito envolvendo os governos federal e de São Paulo. Pela manhã, depois de um teaser na quinta-feira, o governador João Doria anunciou a criação de uma vacina pelo Instituto Butantã, que ainda carece de testes, previstos para começar em abril. Seu pedido de registro foi encaminhado à Anvisa. À tarde, o ministro da Ciência, Marcos Pontes, também em tom eufórico, anunciou estudos para a criação de uma vacina promovida pelo Governo federal, cujos estudos foram protocolados também na Associação Nacional de Vigilância Sanitária.
Tanto a ação do governador quanto a do ministro são louváveis e devem ser comemoradas, mas precisam se distanciar, e já, do viés político que marcou os dois anúncios. O governador paulista tenta voltar ao jogo político de 2022, depois de ter suas pretensões esvaziadas ante uma eventual candidatura do ex-presidente Lula e por conta de dificuldades encontradas dentro do PSDB, seu partido. Já o Governo fez o anúncio para amortizar os efeitos da vacina do Butantã. Fez bem o próprio ministro, após ser provocado, ao dizer que os dois projetos são importantes.
A politização das ações de combate à pandemia já se mostrou problemática por conta de seus efeitos. No início da semana, para dar um basta, foi anunciado um comitê envolvendo os três poderes e governadores para dar praticidade aos projetos de vacinação, mas esse também tem problemas ao não dar espaço aos prefeitos, os personagens da linha de frente na questão.
Os reparos foram feitos, sobretudo com as advertências do presidente da Câmara, Arthur Lira, mas é fundamental priorizar a vacinação em todas as discussões. Os governadores, depois de uma reunião com o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, querem a imunização de dois milhões de brasileiros por dia, mas isso só será possível se todos trabalharem em sintonia.
Parte da região Sudeste está com um feriadão de dez dias para reduzir a contaminação, mas isso só será possível pela vacina e pela conscientização coletiva. O uso de máscara e distanciamento das aglomerações são atos pessoais de repercussão coletiva, mas, mesmo diante dos perversos números, ainda há aqueles que se consideram imunes ao vírus. Ledo equívoco, bastando avaliar o perfil dos novos contaminados.