A morte de 44 pessoas em Minas Gerais, resultado dos fortes temporais que se acumularam na semana passada, especialmente em Belo Horizonte, sua Região Metropolitana e no norte da Zona da Mata, com um saldo, ainda, de mais de 17 mil pessoas desabrigadas, é resultado, em boa parte, de inações dos órgãos oficiais. Com uma topografia comprometida, o Estado e boa parte dos municípios têm um trabalho que deixa a desejar quando se fala em prevenção. O cuidado com as encostas só se revela nesse período, e a situação dos rios se apresenta apenas quando eles fogem de seus leitos.
A contenção das encostas é uma necessidade, pois boa parte delas é ocupada irregularmente sem qualquer cuidado com as consequências, diante do silêncio dos órgãos de fiscalização. A despeito de as chuvas ocorrerem basicamente na mesma época, o descaso leva a tragédias anunciadas. E não se trata de apontar o dedo para essa ou aquela gestão. Ao curso da sua história, os municípios têm sérias dificuldades em fazer tais investimentos.
As imagens são emblemáticas: a maior parte das ocorrências envolve residências instaladas em encostas instáveis ou às margens dos rios. Como a maioria não passa por serviços de recuperação do leito, o assoreamento contribuiu para as enchentes.
Juiz de Fora teve várias ações de proteção de suas encostas, como nos bairros Santa Tereza e Parque Burnier, mas ainda há pontos críticos que carecem de acompanhamento permanente. Isso só, porém, não basta. É fundamental acompanhar o povoamento dessas regiões e atuar sistematicamente com a população para a tomada de medidas. As chuvas que ora açoitam a capital e parte da Zona da Mata, embora esperadas na última sexta-feira, felizmente não chegaram a Juiz de Fora com a intensidade prevista. Mas o ciclo das chuvas só se fecha com as águas de março.
As experiências vividas no município, mesmo sem o temporal esperado, demonstraram que temos sérios problemas, bastando acompanhar o registro da própria população postado nas redes sociais. Em vários bairros, as águas e a lama tomaram conta das ruas em razão, principalmente, da situação das vias de escoamento, dos bueiros entupidos – por causa, em parte, da própria população que descarta o lixo irregularmente – e dos córregos, que há anos não passam por serviços de limpeza.
A Câmara, que tem estado atenta às demandas do município, deve discutir o assunto, até por meio de audiências, para saber em que pé o município se encontra para enfrentar os temporais, especialmente a sua Defesa Civil.