O ex-jogador Gérson, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira, já disse mais de uma vez que, se fosse hoje, não faria o comercial no qual se apresentava como alguém que gostava de tirar vantagem em tudo. A Lei do Gérson, no entanto, é um dado real quando se transfere uma peça comercial para o que ocorre nas relações entre público e privado. Nem sempre são republicanas, como tem ficado claro em episódios da história recente. O Brasil já assistiu a falsificação de medicamentos, a despeito das consequências, loteamento de ativos do Governo, como a Petrobras, e, agora, comercialização de vacinas.
O depoimento do empresário Roberto Pereira Ramos, presidente do FIB Bank, que, apesar do nome, não é banco, à CPI da Covid foi um show de horrores. Ele prestou informações desencontradas e mais confundiu do que esclareceu os parlamentares. Deixou os membros da comissão com uma forte impressão de ser apenas um laranja em todo o processo, na proteção dos verdadeiros donos do negócio. Outro momento de estupefação foi o capital da empresa, de R$ 7,5 bilhões. Ramos disse ser apenas um negócio de pequeno porte, o que levou a um comentário irônico do presidente da CPI, senador Omar Aziz: “Dizer que uma empresa que tem capital social de R$ 75 bilhões é uma empresa de pequeno porte, eu não sei mais o que é de médio e de grande porte”.
O presidente do FIB Bank esclareceu que o capital social é todo referente a apenas dois imóveis, sendo um deles de R$ 7,2 bilhões. Aí ocorreu outra contradição. Como destacou o jornal O Globo, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) 0 enfatizou que a empresa mudou a matrícula desse imóvel, sugerindo que ele não existe. “O imóvel voador, que saiu de Curitiba e foi para São Paulo, no valor de R$ 7,2 bilhões.”
Como CPIs têm início certo e resultado indefinido, não se sabe aonde irá chegar com o relatório do senador Renan Calheiros, mas está claro que a comercialização de vacinas foi vista como um grande negócio por vários setores até o surgimento das suspeitas de esquemas. Se os responsáveis serão punidos é outra questão, pois caberá ao Ministério Público acolher, ou não, as sugestões do relator, mas é possível considerar que a população ficaria refém desses aproveitadores se as possíveis fraudes não fossem colocadas em xeque.
O pior desse processo é a necessidade de vacinas, pois a pandemia ainda é um dado presente no dia a dia do país. Várias regiões têm tido problemas para aplicação de doses ante a crescente demanda acima da produção. Com o surgimento de uma nova cepa, ampliou-se ainda mais a preocupação ante a necessidade de uma dose de reforço. Por enquanto, terá como alvo apenas os idosos acima de 70 anos, mas é fato que todas as faixas, em determinado momento, também terão que ser imunizadas.
A vacina contra o coronavírus, pelos próprios informes da ciência, será, durante muito tempo, como a vacina contra a gripe, isto é, de aplicação sazonal, o que exigirá dos governos a implementação de processos de produção frequente, e não apenas para um período de emergência.