Faltando cerca de cem dias para as eleições, as pesquisas de intenção de votos continuam na mesma toada, apontando a liderança do ex-presidente Lula seguido do presidente Jair Bolsonaro. A chamada terceira via se mantém empacada na casa de um dígito, tendo o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) como o seu representante de melhor performance. Ele, no entanto, não consegue avançar. A senadora Simone Tebet, do MDB, que entrou no jogo no apagar das luzes, conta com o apoio do PSDB, mas nem assim avançou. Os recentes números do Datafolha foram decepcionantes, pois ela continua estacionada na casa de 1%.
Com tão pouco tempo, dificilmente os eleitores vão buscar uma alternativa além dos dois ponteiros. A despeito da alta rejeição de ambos, sobretudo por um ser presidente e o outro já ter ocupado a mesma cadeira, os eleitores não buscam o chamado caminho do meio. O professor Raul Magalhães (leia coluna Painel ao lado) destaca que, se não cometerem algum tipo de erro grave, Lula e Bolsonaro já podem pensar no segundo turno, embora um desfecho no primeiro turno não esteja descartado se as demais candidaturas continuarem desidratadas. O primeiro turno, com dois candidatos tão distantes dos demais, seria uma antecipação da segunda rodada.
O que a ciência política tenta compreender é o comportamento do eleitor. Pelas pesquisas, ele rejeita Lula e Bolsonaro, indicando a busca de uma candidatura alternativa, mas isso não se explicita nos números das intenções de voto. Ciro talvez tenha sido o principal adversário de si mesmo por conta de seu discurso contra tudo e contra todos. Como, de novo, destaca o cientista político Raul Magalhães, somente os eleitores fiéis o consideram como única opção, mas não recebe votos nos redutos dos dois líderes.
A senadora Simone Tebet entrou no páreo com essa expectativa. Bem avaliada no Congresso e com baixa rejeição, pode ter sido vítima da demora e das alianças instáveis. O MDB, seu partido, continua agindo como uma federação, na qual os diretórios atuam de moto próprio, sem uma orientação nacional capaz de manter todos sob o mesmo projeto. Há emedebistas nos núcleos do presidente Bolsonaro e outros tantos na instância de Lula. Ademais, o PSDB, que seria o seu principal aliado, vive o mesmo dilema. Depois de rifar a candidatura própria do ex-governador João Doria, ficou sem palanque nacional, uma vez que o ex-governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, preferiu repetir o mandato – quebrando uma promessa que tinha feito – a disputar a cadeira do Planalto. Simone é o dano colateral da incerteza tucana.
As pesquisas, no entanto, são reflexo do momento, e o Brasil é pródigo em criar situações que mudam o jogo. O eleitor esconde suas posições, preferindo explicitá-las somente nas urnas. Em 2018, o embate pelas duas vagas no Senado, em Minas Gerais, tinha um cenário definido: os candidatos disputavam apenas a segunda vaga, pois a primeira estaria garantida para a ex-presidente Dilma Rousseff.
Quando saiu o resultado, os eleitos foram Rodrigo Pacheco – hoje presidente do Congresso – e Carlos Viana, pré-candidato a governador. A ex-presidente ficou apenas no quarto lugar. Na disputa pelo Governo, Romeu Zema, um outsider, derrotou o veterano Antonio Anastasia.
A velha guarda da política mineira diz com propriedade que, a despeito das pesquisas, eleição é igual a mineração: só depois da apuração.