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Ação e reação

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O procurador-geral da República, Augusto Aras, pode ser a pedra de toque no choque das versões do presidente Jair Bolsonaro e do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, quando ambos, em rede nacional de rádio e televisão, na última sexta-feira, apresentaram suas razões sobre um impasse dentro da Polícia Federal por conta da troca de seu diretor-geral. Mais cedo, Moro disse que o presidente estava fazendo ingerência direta na PF, coisa que nem seus antecessores fizeram. Negou acordo para ser ministro do Supremo Tribunal Federal e disse que o presidente queria detalhes de investigações. Já no final da tarde, num discurso em que falou de improviso a maior parte, e só ao final leu uma nota, o presidente foi na direção contrária. Disse jamais ter feito ingerência na polícia, embora tivesse essa prerrogativa, e garantiu que Moro só aceitava a troca do diretor no final do ano, quando poderia ser indicado para o STF, num gesto a ser interpretado como oportunismo.

O benefício da dúvida é de ambos, o que implica que somente a investigação proposta pelo procurador-geral poderá jogar luzes nessa questão, mas é necessário considerar que, seja qual for o resultado, há desgaste mútuo, pois mostrou meandros do poder, expondo não só o confronto de ideias, mas uma luta surda pelo poder, cujos desdobramentos ressoaram de imediato na casa ao lado, com vários pronunciamentos no Congresso já ingressando no desgastante discurso sobre impeachment.

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Num momento em que a pandemia do coronavírus se mostra mais agressiva, bastando ver os números de casos dos últimos dias, o embate político soa como um contrassenso, pois o que menos se precisa, agora, é o desvio de foco. O Governo, em todas as instâncias, precisa atuar em sintonia para a tomada de decisões graves que estão sendo impostas aos administradores.

Quando a política anda por essa trilha, todos perdem, pois não faz sentido impor uma agenda à população totalmente apartada de seus interesses imediatos. O que as ruas querem, agora, são saídas para o enfrentamento da crise na saúde e na economia, mas Bolsonaro e Moro, de certa forma, anteciparam um debate que pode se apresentar em 2022.

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Até mesmo no foro local há essa tergiversação quando há forte componente em ações e reações em torno de contratos para combate ao coronavírus. Combater ilícitos deve ser uma ação permanente, mas é necessário prudência quanto ao momento e à solidez das provas. Também nesse caso, espera-se o resultado de investigações.

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