Pelo andar dos acontecimentos, o embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, era questão de tempo. Na reunião dessa quarta-feira, para tratar de ações integradas entre a União e os estados, ocorreu o inevitável. Resta, porém, uma indagação: a quem interessa esse tipo de enfrentamento em plena crise do coronavírus? Os dois lados vêm se acusando de politização de uma questão crítica que assola o mundo inteiro, mas não sinalizaram para um apaziguamento. Ao contrário, a corda continua esticada, e chegou a hora de os bombeiros entrarem em campo.
O confronto do presidente da República com o governador do estado mais rico do país é um problema que pode afetar a todos sem, no entanto, ter o significado de solução. O momento é de serenidade, solidariedade e ações integradas, por estarem todos no mesmo barco. Há uma população inteira aguardando providências de seus líderes, e o enfrentamento é totalmente inoportuno.
A antecipação do debate eleitoral em tempos sem crise não teria tantas implicações, pois faz parte do jogo. O presidente, certamente, vai buscar a reeleição, e Doria, agora, surfa na crise para se cacifar para 2022. Há problemas dos dois lados. Os demais governadores precisam buscar o consenso e apontar para as prioridades que estão além das urnas. Se há erros de conceitos, que eles sejam colocados à mesa, pois, de fato, há discussões sobre o tempo de confinamento e suas implicações na economia. Tirar todos das ruas, que tem sido uma ação praticada pelo mundo afora, seria a medida mais eficaz? Discutir vale; brigar, não.
Se for para abordar as eleições, a discussão, que pode até ser pertinente, a despeito de ainda ser prematura, envolve o adiamento da sucessão nos municípios. Já na semana que vem, termina o prazo de migração partidária dos políticos sem risco de punição. Depois começam as articulações formais para elaboração de candidaturas e as convenções. Como a Covid-19 não tem prazo para acabar, não se sabe, pois, como esse calendário vai ser tocado. As convenções, sobretudo para pleitos municipais, são manifestações coletivas. Até julho, as restrições já terão acabado?
Mesmo achando cedo, as instâncias políticas e a Justiça Eleitoral precisam ter essa questão no seu radar, para evitar decisões de última hora. O Comitê Olímpico Internacional relutou até o último momento em adiar os Jogos no Japão. Só tomou a decisão após um telefonema do premiê japonês, alertando para as consequências. A competição, antes prevista para julho, ficou para o ano que vem.
É bem verdade que as eleições estão previstas para outubro, mas é necessário lembrar que abril está chegando. Em seis meses, tudo pode acontecer, inclusive nada, como destacaria o Barão de Itararé, mas prevenir sempre foi melhor do que remediar.