Ao transferir para o dia 2 de junho a reunião da Executiva que trataria das eleições deste ano, num cenário sem a candidatura João Doria, a cúpula tucana adiou a discussão a ser feita pelo PSDB, cujos resultados podem implicar o futuro da legenda. Os dirigentes querem uma aliança com o MDB, encabeçada pela senadora Simone Tebet. O grupo do deputado Aécio Neves, do qual faz parte o pré-candidato ao governo de Minas Marcus Pestana, defende a candidatura própria, que pode ser liderada tanto pelo ex-governador Eduardo Leite – que já deu mostras de não topar – como pelo senador Tasso Jereissati, uma das figuras mais respeitadas do partido. Os tucanos colocam em jogo a própria sorte da legenda que já dirigiu o país por anos, com Fernando Henrique Cardoso, e há décadas comanda o mais importante estado, São Paulo, além de ter sido protagonista em Minas nas administrações de Eduardo Azeredo, Aécio Neves e Antônio Anastasia.
Nesse labirinto, encontra-se a terceira via. A senadora Simone Tebet é vista como o último bastião para os que não querem nem a reeleição do presidente Jair Bolsonaro e nem a volta do ex-presidente Lula, e que não encontram em Ciro Gomes a garantia de uma candidatura consistente. O representante pedetista, com um discurso cada vez mais ácido, amplia seu isolamento, na contramão do que se esperava como representante do caminho do meio. A senadora é oriunda do agronegócio, mas tem trânsito em várias frentes. Paradoxalmente, algumas resistências estão dentro do próprio MDB, que ainda passa por uma crise existencial sem saber a quem apoiar.
A lição a ser tirada desse debate não é necessariamente a candidatura, pois ela pode ocorrer com ou sem o respaldo dos líderes mineiros, mas o futuro das próprias legendas. Protagonistas ao longo dos últimos anos, MDB e PSDB, a começar por Juiz de Fora, são uma sombra do passado. A legenda que já foi capitaneada por Ulisses Guimarães é um arremedo dos tempos em que a postura de seus líderes era uma garantia para os seguidores. Vale o mesmo para os tucanos. Quando assinaram a dissidência dentro do MDB, tinham como justificativa a busca de um novo modelo de fazer política, forjado na social democracia e distante dos acordos de bastidores que começavam a pautar a cena política. Este, aliás, é o mote dos novos dissidentes que pregam a candidatura própria.
Ao fim e ao cabo, tais impasses podem ter efeito contrário, reforçando ainda mais a polarização entre o presidente e o ex, por não haver garantias de uma terceira via capaz de responder àqueles que tentam uma nova opção. A candidatura de Tebet nasce fragilizada pelas resistências dentro de seu próprio campo de alianças. E faltando menos de cinco meses para o pleito, virar o jogo não é algo tão simples, sobretudo quando os ponteiros das pesquisas de intenção de votos começam a jogar um jogo que só a eles interessa: trocam duras críticas entre si ignorando a existência de outras candidaturas, muitas delas, como as de Sérgio Moro, Luciano Huck e João Doria, que ficaram pelo caminho.