Quando a economia vai bem, a democracia também vai. Trata-se de uma máxima que vira e mexe passa por desafios especialmente quando o ponto gerador é a política. A mudança na equipe do ministro Paulo Guedes, que tanta turbulência causou no mercado na semana que terminou, jogando bolsas para baixo e o dólar para cima, é um dado relevante em tal assertiva. O anúncio de furo do teto de gastos, feito pelo próprio ministro, para contemplar o auxílio emergencial de R$ 400 proposto pelo presidente Jair Bolsonaro, foi apenas a ponta do iceberg. Não é de hoje que o Centrão tenta aumentar sua influência em ministérios estratégicos, como o da Fazenda, como preço por seu apoio ao Governo.
O auxílio, pois, foi apenas o empurrão para que parte da equipe pedisse as contas. Ante a paralisação dos tanqueiros, o presidente da República admitiu publicamente um auxílio para o segmento, mas não anunciou de onde tirará recursos, o que deve, de novo, aumentar a insônia do ministro e inquietação entre os investidores.
Brasília é um mundo à parte, e quem conhece seus bastidores sabe que há meios de se encontrar recursos. A questão é como executá-los. O Congresso tem em mãos um orçamento secreto que daria para cobrir todos estes gastos, mas a instância política não apresenta qualquer disposição em abrir mão das emendas de relator, que se tornaram uma moeda de controle dos próprios parlamentares. Daí, o Planalto não tem, hoje, meios para pedir ao deputado Arthur Lira que abra mão de tal prerrogativa.
O impasse econômico, além de tantas demandas, também tem no próprio ministro uma de suas matrizes. Dentro do próprio Planalto há setores que consideram que o “Posto Ipiranga” perdeu combustível e já não goza mais da confiança do mercado. A questão é tirá-lo do cargo. O presidente Jair Bolsonaro já avisou que não tem a menor pretensão em demiti-lo e o ministro não dá pistas de que vai pedir para sair.
Com tantos componentes, a semana em curso pode ser um reflexo da instabilidade de sexta-feira, o que é ruim para todos, já que em crises econômicas os setores mais carentes pagam uma alta conta, mas outras instâncias, sobretudo do setor produtivo, também encontram sérias dificuldades. Para tanto, basta acompanhar a ascensão incontrolável do preço dos combustíveis. Seus reflexos ocorrem não apenas no bolso do consumidor direto, mas também em toda a corrente produtiva.
Trocar o ministro não parece ser a solução para todos os males, já que, embora não tenha cumprido a agenda que o tornou um dos homens mais poderosos do país, ele depende do próprio presidente, que vira e mexe o surpreende com projetos que, pelo menos no curso prazo, nem sempre podem ser executados. O mesmo problema seria enfrentado por um eventual sucessor.