A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, realizada no período de 13 a 16 de dezembro, indica que apenas 10% dos entrevistados disseram considerar bom ou ótimo o trabalho do Congresso, três pontos percentuais abaixo da última avaliação. Há quase três anos, quando foi inaugurada a atual legislatura, a aprovação era de 22%. O número de brasileiros que avalia como ruim ou péssimo o trabalho do Congresso teve uma oscilação para baixo, passando de 44% na última pesquisa, em setembro, para 41%. Os que consideram regular a atuação dos parlamentares foram de 40% para 45%.
Tais números não surpreendem por uma série de fatores, mas alguns são destacados em razão do próprio comportamento dos políticos. Em campanha, prometem mundos e fundos, mesmo sabendo que várias dessas propostas estão além de suas prerrogativas. Outro fator é o modus operandi do Parlamento. A opinião pública tem clara a leitura de que dentro do Congresso o jogo de interesses é uma ação permanente e que parte desses grupos age sem avaliar motivações ideológicas. O Centrão, ora no Governo, também apoiou todas as gestões, a partir do mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Diante de uma crise econômica que acentua o desemprego e eleva os preços, o eleitor tende a imputar aos deputados e aos senadores parte das responsabilidades. Os 10% ora registrados também revelam a irritação das ruas com o modelo farinha pouca, meu pirão primeiro, prática da casa quando aprova, por exemplo, um Fundo Eleitoral de mais de R$ 4 bilhões. O financiamento público de campanha não é uma pauta negativa, mas o modo como ele aplicado tem problemas.
As pesquisas são importantes para aferir o humor das ruas, e os dados do Datafolha são emblemáticos ante o cenário de incertezas que marca a cena política. O eleitor, mais por desinformação, tem um pé atrás quando se fala do Legislativo, embora ele seja vital para a democracia, mas a responsabilidade por números tão baixos é da própria instância política, que conhece as mazelas, mas pouco faz para combatê-las, sobretudo quando o interesse de grupos se sobrepõe à vontade geral.
As eleições são o principal momento para o acerto de contas, uma vez que, pelas urnas, o eleitor pode não só explicitar sua (in)satisfação, mas também decidir se renova ou não o mandato de seu representante, embora um expressivo número, se indagado, já não saiba mais em quem votou.