Em 1992, quando o Brasil recebeu cerca de cem chefes de Estado, o meio ambiente ganhou novo papel na agenda internacional. A Eco-92, ainda na gestão Fernando Collor, foi um marco, pois, a partir daí, a questão passou a ser um assunto de governos, e não apenas de grupos ou organizações não governamentais. Estes continuam no debate, mas o interesse global subiu de patamar a despeito de muito do que foi falado no evento ter ficado apenas no papel. Mas foi um começo.
Nessa quinta-feira, lideranças de cerca de 40 países – desta vez pela via virtual, em decorrência da pandemia – voltaram a se encontrar. Foram muitas as promessas, havendo consenso sobre a necessidade de redução das emissões de gases poluentes. Um dos maiores poluidores do mundo, os Estados Unidos prometeram reduzir suas emissões pela metade até 2030. O Brasil foi pela mesma trilha, mas ainda suscita desconfiança internacional por ter, até agora, adotado uma postura diferente do que foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro.
Ademais, apesar das emissões, o país desperta mais interesse pelo desmatamento da Amazônia, um dos pulmões do mundo e que fica permanentemente sob os olhares do mundo. Nesse aspecto, o desempenho nacional tem sido preocupante, sobretudo diante dos desencontros do que fala o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e os números apresentados, especialmente por organizações independentes.
Há controvérsia. O ministro é visto com desconfiança global desde quando foi flagrado sugerindo “passar a boiada” em ações ambientais.
As promessas do Governo brasileiro são ousadas, e pedir recursos para sua implementação não chega a surpreender. Com os interesses conectados, não há constrangimento em passar o pires, mas é necessário ganhar a confiança internacional para esse financiamento. Para tanto, várias ações precisam sair do papel antes de o dinheiro começar a chegar. Por conta de algumas inações, vários países, que até então financiavam projetos ambientais no país, fecharam o caixa. Reverter esse processo é uma missão que exige dados reais na realização.
A cúpula dessa quinta-feira serve de referência para discussões que devem se espalhar pelas instâncias de poder, uma vez que todos estão envolvidos no processo. Há, por exemplo, o desafio do uso da água. Milhões de pessoas pelo mundo afora não têm acesso à água potável. Muitos rios, diante de danos como assoreamento, sequer chegam ao final de seu curso, o que deixa a própria humanidade em xeque sobre seu futuro.
O debate sobre meio ambiente não se encerra no agora. Ele deve ser uma agenda permanente por envolver o futuro. O planeta precisa ser ressarcido dos danos provocados até hoje. Diversas civilizações desapareceram por não terem conhecimento de causa. Hoje, não. O futuro pode ser forjado com segurança desde que haja, de fato, interesse em agir nesse sentido