Enquanto setores políticos se digladiam num cenário pré-eleitoral, dando mais ênfase a um debate que deveria ocorrer somente em 2022, os desafios da pandemia se acentuam à medida que a doença avança pelo país, sobretudo nas comunidades mais carentes. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), que nem sempre levam em conta bairros de viés popular, apontam que 15 milhões de brasileiros moram em favelas. Tal dado é extremamente preocupante quando se sabe que o confinamento é uma das estratégias para reduzir a proliferação do vírus e, por consequência, o estrangulamento do sistema de atendimento.
A primeira questão é: como confinar pessoas num espaço tão reduzido e de precárias condições? O principal temor desses personagens é não ter acesso ao atendimento se a rede de atendimento entrar em colapso, pois são poucos os que têm planos de saúde. A outra questão é o desemprego. A maioria dos moradores em comunidade atua como autônomo, vivendo a cada dia uma nova angústia, e outro tanto tem emprego, mas corre o risco de perdê-lo.
A saída econômica implementada pelo Governo federal é a pedra de salvação desses moradores, mas outros pontos precisam avançar para garantir a sua sobrevivência. As políticas públicas de atendimento devem ser intensificadas nessas regiões – o que inclui mais informação – a fim de evitar o caos. Países que não se planejaram ou deixaram decisões para depois estão pagando um alto preço por tal leniência.
Alguns estados, como São Paulo, o mais rico deles, já estudam saídas para flexibilizar o isolamento diante não só de números da economia, mas também pela realidade ora enfrentada: sem meios, a população, especialmente a mais carente, não tem como garantir sua manutenção.
O necessário fechamento das escolas tornou-se um problema grave, pois boa parte das mães que trabalham fora não vive no home office, e mesmo aquelas que podem atuar sob esse modelo enfrentam a dificuldade dos filhos, que têm na escola a sua principal fonte de alimentação.
São muitos os problemas a serem enfrentados, indicando que a discussão política sob viés ideológico é o que menos vale nesse momento. Há questões graves a serem resolvidas, o que só será possível se todos atuarem na mesma trincheira. Tal situação deve servir de alerta tanto para o Governo quanto para o Congresso. Ambos precisam atuar no mesmo sentido, em vez de adotarem um enfrentamento no qual não haverá vencedor. Mas derrotados, sim: a população.